São Paulo, sábado, 24 de setembro de 2011 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
ANÁLISE CONJUNTURA Agora, crise financeira chega ao mercado cambial do Brasil GERALDO BARROS ESPECIAL PARA A FOLHA Além das duras perdas que vem impondo há algum tempo às empresas e aos investidores na BM&FBovespa, que já ultrapassam 23% no ano, agora a crise financeira mundial alcança o Brasil também no mercado de câmbio. Apenas neste mês, a alta do dólar já se aproxima de 20% no mercado interno. Aparentemente, o BC não contava com essa alta do dólar -ou com ela não se preocupava, devido ao elevado nível de reservas do país. A última ata do Copom indica como prováveis canais de transmissão da crise externa para a economia interna as retrações no comércio, no investimento ou no crédito externos. O impacto da elevação do dólar sobre a inflação poderá ser mais amplo do que no passado. Além do forte efeito dos preços dos produtos exportáveis, é provável que tenha aumentado a força dos preços dos importáveis, cuja relevância para a economia brasileira cresceu durante a longa fase do dólar barato. Além disso, mais importações com juros externos muito convidativos podem ter elevado o montante da dívida externa das empresas brasileiras, o que pode desestabilizar os balanços diante da alta pronunciada do dólar. Preocupadas com os efeitos do dólar barato sobre a competitividade da indústria, as autoridades econômicas tomaram medidas, como a imposição do IOF, que acabaram por frear a oferta de dólares, agravando a turbulência dos últimos dias. Ainda mantendo aquelas medidas, o BC mostrou-se resoluto ao vender contratos de "swap cambial", ou seja, equivalente a ofertar dólares no mercado futuro. Pairam dúvidas, porém, quanto à eficácia desse tipo de ação caso se prolongue a atual movimentação, mostrando se tratar de uma séria fuga de capitais em busca de maior segurança no exterior. Para o agronegócio em especial, patamares mais elevados do dólar são um tipo de seguro contra possíveis quedas dos preços das commodities que podem ocorrer também devido à crise. Para a soja em grão, apesar de o preço FOB-Paranaguá em dólares já ter caído 12,3% neste mês, a alta do dólar garantiu crescimento de quase 4% no preço em reais no Paraná (interior). De modo geral, neste mês as quedas dos preços internacionais em dólares das commodities agropecuárias têm sido bem menores do que a subida do dólar no Brasil. Continuando assim, essa conjugação de fatores habilita o agronegócio a concorrer em melhores condições com os demais fornecedores, de tal sorte que uma redução do mercado global possa ser compensada pelo ganho de fatia maior desse mercado, como é o que se espera no caso das carnes, especialmente a de frango. Do lado dos custos do agronegócio, a alta do dólar vai ser um complicador. Felizmente, para a safra 2011/12 os produtores rurais tenderam a adquirir com antecedência seus insumos, escapando em boa parte da forte alta de preços ao longo deste ano. Custos mais elevados provavelmente vão prevalecer para a safra 2012/13 devido à combinação do preço internacional dos insumos e do câmbio no mercado interno. GERALDO BARROS é professor titular da USP/Esalq e coordenador científico do Cepea/Esalq/USP. Texto Anterior: Entrega das declarações do ITR termina na próxima sexta-feira Próximo Texto: FOLHA.com Índice | Comunicar Erros |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |