São Paulo, domingo, 24 de outubro de 2010

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Índia recria economia com capital privado forte

País da "classe E" passará a China e será nação de maior expansão até 2040

Empresas sobreviventes ao caos atendem aos pobres e desenvolvem serviços de tecnologia padrão internacional

William West - 3.out.10/France Presse
Abertura dos Jogos da Comunidade Britânica, em estádio indiano

TONI SCIARRETTA
EM MUMBAI

Trânsito caótico, apagões aberto, greves que param o país e até surto de dengue.
A bagunça e a sujeira características da Índia, o menos noticiado no Brasil dos Brics, não impedem o país de emergir como o de futuro mais promissor do grupo emergente que inclui ainda China e Rússia.
A Índia tem crescimento deverá deixar a China para trás em ritmo de expansão econômica já em 2013.
O motor de desenvolvimento é a população de 1,2 bilhão de pessoas, que disputa palmo a palmo espaço com o vizinho, e que fará do país a nação de maior crescimento do mundo até 2040.
Como o Brasil, a Índia é uma democracia com uma população jovem imensa (34% tem menos até 14 anos). São pessoas que trabalharão pelos próximos 25 anos, sem precisar sustentar uma maioria aposentada -o tal bônus demográfico.
Independente desde 1947, a Índia tem um dos governos mais burocráticos, ineficientes e corruptos do mundo. É um Estado que tenta se meter em quase tudo -do funcionamento das escolas privadas até o controle dos preços (o país tem inflação de 10%).
A diferença com o Brasil, e também com a China, é que o governo indiano não conseguiu se organizar para ter presença importante na economia. Atua no setor bancário, mas não tem um BNDES com recursos suficientes dar juro subsidiado a empresas.
O lado bom é que também não estragou as empresas nascentes superprotegendo-as. As que sobreviveram ao caldeirão indiano cresceram com as próprias pernas e são amostra do instinto de sobrevivência típico de países com mais de 1 bilhão de pessoas.
"A Índia desenvolveu um lado privado importante. São empresas de todos os portes, que se especializaram em serviços de qualidade internacional e que empregam muita gente", disse à Folha Raguran Rajan, conselheiro do governo indiano e ex-economista do FMI.
"O governo colaborou não estragando o setor privado", disse Vihang Errunza, economista indiano da Universidade da Califórnia.
Com 40% da população que difere do Brasil por não esperar ascensão dos pobres para incluí-los no consumo.
Na Índia, as empresas é que foram até as favelas comercializar seus produtos e serviços a "quase nada". O resultado foram negócios capazes de sobreviver a margens de lucro mínimas e à custa de ganhos de escala.
Para substituir as motocicletas, o país deu ao mundo o carro popular de US$ 2 mil da Tata Motors, subsidiária de um dos maiores grupos indianos, que tem 65% do capital em fundos de caridade.
O mesmo grupo desenvolveu um filtro d"água de US$ 10, que não precisa de eletricidade e mata a bactéria do cólera -200 milhões no país não têm água potável.

JOGOS
Para quem tem dúvidas da capacidade do Brasil de sediar Copa e Olímpíadas, a Índia também traz esperança. A organização dos Jogos da Comunidade Britânica neste ano foram um fiasco.
O país tem infraestrutura de transportes que lembra a brasileira, apesar de os aeroportos serem melhores. A sujeira das ruas e a paisagem de cortiços não foram maquiados, como aconteceu na Olimpíada de Pequim.
Os indianos minimizam o vexame citando o desapego cultural aos bens materiais -mas lojas de smartphones estão em toda parte.


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