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ANÁLISE TREM-BALA
Apesar das facilidades, faltam investidores
Recursos viriam do BNDES e de fundos de pensão de estatais, mas setor privado não se entusiasma pela obra
RICARDO BALTHAZAR
DE SÃO PAULO
Poucos empreendedores
encontram no dia a dia dos
seus negócios condições tão
favoráveis como as que o governo oferece aos grupos que
se dispuserem a pôr o trem-bala brasileiro nos trilhos.
O BNDES promete emprestar R$ 20 bilhões para o projeto, orçado em R$ 33 bilhões.
Fundos de pensão ligados a
estatais entrariam com outra
parte. Se houver menos passageiros no futuro do que se
espera, as taxas de juros do
empréstimo serão reduzidas.
Ainda assim, o governo
encontra dificuldades para
despertar o entusiasmo do
setor privado pelo empreendimento. As empresas que
estudaram o projeto acham
que os custos foram subestimados e duvidam que o trem
seja um bom negócio nos termos propostos por Brasília.
O governo tem resistido às
pressões que sofre para adiar
o leilão do trem-bala e mudar
as condições estabelecidas
para a licitação, mas essa teimosia poderá gerar complicações semelhantes às que a
disputa pela hidrelétrica de
Belo Monte gerou neste ano.
Duas das maiores construtoras do país, a Odebrecht e a
Camargo Corrêa, desistiram
do leilão poucos dias antes.
Para garantir que houvesse
competição, o governo articulou na última hora a formação de um consórcio com
várias empresas menores e o
grupo acabou vitorioso.
Encerrado o leilão, concluiu-se que as empresas
participantes do consórcio
não tinham capital suficiente
nem a experiência necessária para um empreendimento
desse porte. Estatais e fundos
de pensão entraram no grupo para reforçá-lo e as grandes empreiteiras foram chamadas de volta para executar
a obra sem assumir os riscos
do investimento e da operação da hidrelétrica no futuro.
Ao contrário do que ocorreu no caso de Belo Monte, as
grandes construtoras não demonstram muito interesse
pelo trem-bala. Elas têm conversado com o governo e os
grupos estrangeiros que detêm a tecnologia dos trens de
alta velocidade, mas vencer o
leilão não parece prioritário.
Isso significa que, se o governo insistir no projeto, ele
provavelmente se verá obrigado, em algum momento, a
assumir uma fatia maior dos
custos para viabilizá-lo.
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