São Paulo, quarta-feira, 24 de novembro de 2010

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Crise se agrava na Irlanda e afeta Espanha

Risco-país de nação ibérica é o maior desde a implementação do euro; ações de bancos irlandeses chegam a cair 20%

Sob pressões políticas, governo irlandês deve anunciar hoje pacote de austeridade, condição para receber socorro

Peter Morrison/Associated Press
Trabalhadores reparam escritório do ministro dos Transportes da Irlanda, após manifestantes picharem "traidor"

VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES

A crise política na Irlanda se agrava, a econômica não melhora e o medo de que outros países precisem de ajuda financeira para honrar suas dívidas derruba Bolsas pela Europa e faz outras nações, como a Espanha, terem que pagar juros recordes na hora de negociar seus títulos.
O governo irlandês promete apresentar hoje seu pacote de medidas que significam quatro anos de austeridade para reduzir o deficit público.
Haverá cortes de gastos e do valor do salário mínimo. Já os tributos vão aumentar.
O pacote é uma das condições para o país receber o empréstimo de € 90 bilhões (R$ 211 bilhões) do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Banco Central Europeu para tentar resolver seus problemas de caixa.
Mas a oposição e até membros do próprio governo insistem em que o primeiro-ministro renuncie, dissolva o Parlamento e convoque novas eleições em dezembro.
O primeiro-ministro, Brian Cowen, disse não estar "agarrado ao poder", mas que precisa que o Parlamento aprove o Orçamento de 2001 antes de ser dissolvido. Diz que a aprovação é outra exigência do FMI e do BCE.
Enquanto a questão política não se resolve, o mercado continua a castigar a Irlanda. Ações de alguns bancos chegaram a cair mais de 20%.
O presidente do BC irlandês, Patrick Honohan, voltou a dizer que os bancos (a maioria foi nacionalizada) estão à venda. "Há tempos eu defendo que países pequenos tenham donos estrangeiros em seus bancos."

CONTÁGIO
A União Europeia pediu à oposição que deixe a política de lado e ajude o governo a conter a crise econômica o mais rápido possível.
O medo é piorar ainda mais a situação de outros países, como Portugal e Espanha, que também estão com problemas de deficit.
Muitos acreditam que esses países serão os próximos da fila a recorrer a empréstimos bilionários.
O risco-país da Espanha (diferença entre os juros pagos por um país e os exigidos da Alemanha na hora de negociar seus títulos) atingiu o maior nível desde que o país adotou o euro, em 1999.
Já Portugal anunciou que seu deficit publico cresceu no ano, apesar das medidas de austeridade.

HISTÓRICO
Crise econômica que se transforma em crise política e crise política que agrava a crise econômica, como ocorre agora na Irlanda, não são novidades.
No começo dos anos 1980, com inflação, desemprego e deficit público altos, a Irlanda teve tempos turbulentos na política com três eleições gerais em apenas 18 meses.
Em 1981, nenhum partido saiu com maioria clara das eleições. Então, o Fine-Gael e o Partido Trabalhista formaram uma coalizão, que teve vida curta.
O governo não conseguiu aprovar a proposta de Orçamento para o ano seguinte.
O Parlamento foi dissolvido, e nova eleição foi convocada para fevereiro de 1982.
Dessa vez, o partido vencedor foi o Fianna Fáil. Mas a crise econômica continuava a assombrar.
Como agora, foi tentado um pacote de redução de gastos, que se mostrou muito impopular.
No mesmo ano, o novo governo não conseguiu vencer um voto de confiança no Parlamento, e o país teve novas eleições em novembro.


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