São Paulo, quarta-feira, 24 de novembro de 2010

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ANÁLISE COMBUSTÍVEIS

Volatilidade marcará o mercado de petróleo no médio prazo

WALTER DE VITTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Prever a trajetória do preço de commodities e, em particular a do petróleo, não é uma tarefa trivial.
Como são negociados em mercados globalizados, o processo de formação de preços desses produtos sofre a influência de uma série de fatores, que, muitas vezes, extrapolam os fundamentos de oferta e de demanda.
Uma dessas variáveis é a relação entre a cotação das commodities e o valor do dólar relativamente a outras moedas. No caso específico do mercado de petróleo, há ainda aspectos de baixa previsibilidade e forte impacto, como medidas da Opep e os fatores geopolíticos.
A lógica que tem dominado o mercado de petróleo desde a crise econômica está fortemente associada à percepção de risco.
Em momentos de menor incerteza e maior otimismo, os investidores se mostram menos avessos ao risco e alocam recursos em ativos mais arriscados.
Nessas ocasiões, dois fatores tendem a elevar os preços do petróleo, assim como o de outras commodities e ativos financeiros: o aumento da demanda pelos contratos/ papéis e a queda do dólar.
Por outro lado, em momentos de maior incerteza, tem início um processo de venda de papéis e de contratos mais arriscados e os investidores migram recursos para mercados ou ativos tidos como mais seguros, que, em geral, são denominados em dólar,o que propicia a valorização da moeda.
É essa dinâmica que tem feito os preços do petróleo e o das Bolsas de Valores caminharem na mesma direção desde o advento da crise.
A evolução das cotações do petróleo observada nas últimas semanas ilustra bem a dinâmica que tem dominado o mercado desde meados de 2009.
Entre 24 de agosto e 10 deste mês, o barril do tipo brent registrou alta de 24%. O aumento foi motivado pela melhora na percepção do cenário econômico dos principais países europeus, que têm se beneficiado da trajetória de desvalorização do euro diante das demais moedas observada desde o final do ano passado, fato que tem ampliado as exportações dos países da região.
No início deste mês, o anúncio de que o Fed comprará US$ 600 bilhões em títulos do Tesouro americano até junho de 2011 gerou pressões extras de alta para a commodity, motivadas pela perspectiva de que o dólar pudesse permanecer em patamar mais desvalorizado.
Desde então, o aumento da percepção de risco associada aos desdobramentos da crise da dívida na Irlanda, em Portugal e na Grécia ensejou um novo ciclo de busca por ativos menos arriscados, o que provocou a queda nas cotações do barril.
Entre 10 e 22 deste mês, o preço do brent recuou 6,1%. Essa dinâmica, de ciclos de alta seguidos de baixas, ainda deve perdurar por algum tempo, até que o cenário da economia mundial se mostre mais claro e outros fatores passem a dominar o mercado de petróleo.


WALTER DE VITTO é mestre em economia e analista do setor de energia da Tendências Consultoria Integrada.

Internet: www.tendencias.com.br


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