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Crise reflui, e unidade do G20, também
Após consenso sobre medidas no auge da turbulência, países divergem sobre necessidade de retirar estímulos
Enquanto UE dá ênfase
a ajustes fiscais, EUA,
Brasil e Canadá cobram
manutenção de medidas
de impulso à atividade
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
O G20, o grupo das 21
maiores economias do mundo mais a União Europeia,
nasceu como "companheirismo de bote salva-vidas",
no dizer de Stewart M. Patrick, diretor do Programa de
Instituições Internacionais e
Governança Global do respeitado Council on Foreign
Relations (EUA).
Agora, quando o G20 faz,
amanhã e domingo, sua
quarta cúpula, o companheirismo "se mostra difícil de
sustentar na medida em que
a crise refluiu", diz Patrick.
É fato: o grande ativo do
G20 foi a maneira concertada
com que atuou na crise iniciada em 2007, ainda com o
rótulo de crise das hipotecas
"subprime".
Não que todo país adotasse medidas semelhantes.
Mas a direção política era
inequivocamente única -e
de firme respaldo a colossal
pacote de estímulos para evitar que o bote afundasse.
Na cúpula de Londres, os
líderes anunciaram impressionante US$ 1,1 trilhão para
evitar o colapso econômico
-o que dá pouco menos que
toda a economia do Brasil.
Agora, no entanto, a direção política já não é unívoca:
os EUA, o anfitrião Canadá e
o Brasil insistem em que ainda não é o momento de retirar os estímulos.
"Num momento em que a
incerteza persiste nos mercados, é imperativo que apresentemos medidas reais e críveis que mostrem que estamos comprometidos com
uma recuperação sustentável e durável, para benefício
dos nossos cidadãos", escreveu, por exemplo, Stephen
Harper, o premiê anfitrião,
aos pares do G20.
Os europeus, ao contrário,
preferem começar já a consertar o buraco causado pela
crise nas contas públicas.
A ênfase é nos ajustes fiscais (cortes de gasto e alta de
imposto), o que o jargão econômico chama pudicamente
de "consolidação fiscal".
As grandes economias europeias nem esperaram a cúpula deste fim de semana para adotar o que consideram
prioritário: todas anunciaram e/ou colocaram em prática programas de ajuste.
DEFICIT
Para deixar claro que a direção política já não é idêntica, basta ler trecho de artigo
assinado por Lawrence Summers, principal assessor econômico da Casa Branca, e Timothy Geithner, secretário
do Tesouro:
"Precisamos demonstrar
um compromisso com a redução dos deficit no longo
prazo, mas não ao preço de
sacrificar o crescimento no
curto prazo. Sem crescimento agora, os deficit aumentarão ainda mais e minarão o
crescimento futuro".
Não é a única discrepância
entre europeus e norte-americanos: os três principais
países europeus (Alemanha,
França e Reino Unido) chegam para a cúpula de Toronto com a proposta de uma taxa global sobre os bancos,
para financiar futuros socorros ao sistema financeiro.
PROPOSTA BARRADA
A proposta não passou na
reunião preparatória que os
ministros da Fazenda e presidentes de bancos centrais fizeram na Coreia, há um mês.
O Brasil, por exemplo, é
contra, argumentando que
seus bancos, que não participaram da lambança financeira que gerou a crise, não
podem ser punidos agora.
Já os Estados Unidos chegam com a proposta de estabelecer "uma moldura global
para a regulação financeira",
conforme dizem Summers e
Geithner.
As duas divergências não
são, em princípio, irremediáveis, até porque reuniões de
cúpula costumam terminar
com um mínimo denominador comum. O problema é
que um documento minimalista talvez não seja suficiente para que o "bote salva-vidas" continue navegando à
plena máquina.
FOLHA.com
Leia mais sobre o G20 na
coluna de Clóvis Rossi na
internet
folha.com.br/pr756009
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