São Paulo, sábado, 25 de junho de 2011

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ANÁLISE ENERGIA

Setor sucroenergético requer novo ciclo de investimentos

ADRIANO PIRES
ESPECIAL PARA A FOLHA

O setor sucroenergético encontra-se numa situação de impasse e necessitando que o governo dê sinais que permitam o início de um novo ciclo de investimentos.
As atuais políticas governamentais não trazem segurança nem incentivos a novos investimentos. Desde 2008, verifica-se uma queda dos investimentos no setor sucroenergético.
Entre 2000 e 2008, a produção de cana-de-açúcar mais do que dobrou, resultado do avanço de 10,3% ao ano.
Nesse período, o consumo de etanol superou o de gasolina e atendeu à expansão da frota flex. Com o advento da crise global de 2008, o setor foi atingido, e o crescimento caiu para cerca de 3% ao ano.
O setor sucroenergético produz, basicamente, três produtos: açúcar, etanol e bagaço de cana. A crise é detonada pelo aumento do preço do etanol e a possibilidade de falta do produto.
A primeira acusação é que o responsável pela restrição da oferta e pelo aumento do preço do etanol seria a ampliação da demanda por açúcar no mercado externo e a mudança no mix de produção das usinas, priorizando a produção açucareira.
Porém, de acordo com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), há uma rigidez na escolha da produção. Isso significa que apenas 6% da cana moída pode ter sua produção direcionada ao açúcar ou ao etanol.
Quando se observa o mix de cana moída em 2010, ou seja, a proporção destinada a um ou a outro produto final, verifica-se que essa variação não foi significativa.
O verdadeiro problema, portanto, não está na substituição do etanol pelo açúcar, mas sim na falta de investimentos em produção de cana para produzir ambos.
Em vez de promover medidas que incentivem investimentos na produção de cana, o governo, de forma míope, olhando exclusivamente para o etanol, publica a medida provisória nº 532/2011, que altera a classificação do etanol de "produto agrícola" para "combustível", prática que permite que a ANP possa atuar na fiscalização, na comercialização, na estocagem, na exportação e na importação do produto.
Essa MP e sua futura regulamentação não seriam ruins se fossem acompanhadas de outras medidas. A intervenção do governo, via MP, não traz solução de longo prazo para o assunto.
A solução virá apenas quando for elaborada uma política que leve ao maior investimento na produção de cana e à regulação por incentivos econômicos que forneça sinais para produzir mais açúcar ou mais etanol.
Não será estabelecendo cotas para a exportação de açúcar, obrigando a se ter estoques e contratos de longo prazo de etanol e não dando condições econômicas para a utilização do bagaço de cana na geração de energia que resolveremos o problema do setor sucroenergético.

ADRIANO PIRES é diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura).


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