São Paulo, domingo, 25 de julho de 2010

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Bangladesh bane saco plástico e vende tecnologia verde

País, um dos mais pobres do mundo, avança em iniciativas como reaproveitamento de água e uso de energia solar

Governo tem apenas papel coadjuvante nas iniciativas ecológicas, que são incentivadas por ONG e ambientalista

TONI SCIARRETTA
EM DACCA (BANGLADESH)

Uma cidade com 13,5 milhões de pessoas, quase sem transporte público, onde o esgoto corre a céu aberto e o trânsito para com a chuva.
Vítima constante de tufões e de enchentes, Dacca, a capital do Bangladesh, poderia ser a cidade mais poluída do mundo, mas dá exemplo de baixa emissão de carbono, consumo responsável e tecnologia sustentável.
Desde 2002, a cidade baniu do comércio as sacolas plásticas que entupiam os bueiros. Nas lojas e supermercados, o consumidor sai com sacolinhas semidescartáveis de juta (fibra de planta) ou pano, que se desfazem em poucos dias.
Sozinha, Dacca descartava 9,3 milhões de sacos plásticos por dia -só 15% iam para o lixo tratado, o restante terminava nos córregos e rios.
Os bengaleses responsabilizam as sacolas plásticas pelas inundações de 1989 e 1998, que deixaram dois terços do país debaixo d'água.
Mesmo oito anos após o fim das sacolinhas, o país ainda não conseguiu limpar dos rios esses detritos, cuja decomposição demora mil anos. Todos os anos retira pelo menos dois caminhões de restos de plásticos dos rios.
Agora, o país, um dos mais pobres do mundo, exporta sacolas ecológicas para EUA, Europa e Japão. Só no ano passado, as exportações bateram US$ 547 milhões.
"É fashion ter uma sacola ecológica "made in Bangladesh". Mas sustentabilidade não é mais luxo inacessível; aqui é questão de sobrevivência", disse à Folha Gofran Ahmad, diretor do Grameen Shakti, braço do grupo Grameen, cuja política de microcrédito valeu um Prêmio Nobel da Paz ao país.
Com exceção dos poucos carros importados, toda a frota utiliza gás natural. O país tem reservas até 2020.
Em Bangladesh, não há proibição à gasolina. A população aderiu porque o gás custa 40% menos.
Com parte dos mananciais contaminados por arsênico, Bangladesh desenvolveu um sistema avançado de reaproveitamento de água da chuva, menos contaminada.

MICROCRÉDITO
Bangladesh é também um dos países com maior experiência no mundo na utilização de energia solar.
No país, só 38% da população tem acesso à rede elétrica, cuja geração depende de termelétricas a gás. Nas regiões mais remotas, o sol é a única fonte de energia.
Até 2009, o Grameen tinha instalado 3 milhões de kits de energia solar, a maioria financiado por microcrédito.
Empresas verdes desenvolveram esses kits -três lâmpadas fluorescentes, uma geladeira e uma TV- a US$ 250, com capacidade para atender ao consumo de quatro adultos.
Há dez anos, custavam quase US$ 1.000.
Segundo Gofran, Bangladesh só não exporta tecnologia solar porque mal atende a demanda interna.
Em 2007, uma escola de Rudrapur (Grande Dacca) ganhou o prêmio Aga Khan de Arquitetura. Construída à mão com bambu, a escola tem uma estrutura que aproveita a luz natural, facilita ventilação e dispersa o calor.
O governo tem papel coadjuvante nas iniciativas ecológicas. Os maiores incentivadores são as ONGs e instituições do terceiro setor.


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