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Bangladesh bane saco plástico e vende tecnologia verde
País, um dos mais pobres do mundo, avança em iniciativas como reaproveitamento de água e uso de energia solar
Governo tem apenas
papel coadjuvante nas
iniciativas ecológicas,
que são incentivadas
por ONG e ambientalista
TONI SCIARRETTA
EM DACCA (BANGLADESH)
Uma cidade com 13,5 milhões de pessoas, quase sem
transporte público, onde o
esgoto corre a céu aberto e o
trânsito para com a chuva.
Vítima constante de tufões
e de enchentes, Dacca, a capital do Bangladesh, poderia
ser a cidade mais poluída do
mundo, mas dá exemplo de
baixa emissão de carbono,
consumo responsável e tecnologia sustentável.
Desde 2002, a cidade baniu do comércio as sacolas
plásticas que entupiam os
bueiros. Nas lojas e supermercados, o consumidor sai
com sacolinhas semidescartáveis de juta (fibra de planta) ou pano, que se desfazem
em poucos dias.
Sozinha, Dacca descartava
9,3 milhões de sacos plásticos por dia -só 15% iam para
o lixo tratado, o restante terminava nos córregos e rios.
Os bengaleses responsabilizam as sacolas plásticas pelas inundações de 1989 e
1998, que deixaram dois terços do país debaixo d'água.
Mesmo oito anos após o
fim das sacolinhas, o país
ainda não conseguiu limpar
dos rios esses detritos, cuja
decomposição demora mil
anos. Todos os anos retira pelo menos dois caminhões de
restos de plásticos dos rios.
Agora, o país, um dos mais
pobres do mundo, exporta
sacolas ecológicas para EUA,
Europa e Japão. Só no ano
passado, as exportações bateram US$ 547 milhões.
"É fashion ter uma sacola
ecológica "made in Bangladesh". Mas sustentabilidade
não é mais luxo inacessível;
aqui é questão de sobrevivência", disse à Folha Gofran Ahmad, diretor do Grameen Shakti, braço do grupo
Grameen, cuja política de microcrédito valeu um Prêmio
Nobel da Paz ao país.
Com exceção dos poucos
carros importados, toda a
frota utiliza gás natural. O
país tem reservas até 2020.
Em Bangladesh, não há
proibição à gasolina. A população aderiu porque o gás
custa 40% menos.
Com parte dos mananciais
contaminados por arsênico,
Bangladesh desenvolveu um
sistema avançado de reaproveitamento de água da chuva, menos contaminada.
MICROCRÉDITO
Bangladesh é também um
dos países com maior experiência no mundo na utilização de energia solar.
No país, só 38% da população tem acesso à rede elétrica, cuja geração depende
de termelétricas a gás. Nas
regiões mais remotas, o sol é
a única fonte de energia.
Até 2009, o Grameen tinha
instalado 3 milhões de kits de
energia solar, a maioria financiado por microcrédito.
Empresas verdes desenvolveram esses kits -três
lâmpadas fluorescentes,
uma geladeira e uma TV- a
US$ 250, com capacidade para atender ao consumo de
quatro adultos.
Há dez anos, custavam
quase US$ 1.000.
Segundo Gofran, Bangladesh só não exporta tecnologia solar porque mal atende a
demanda interna.
Em 2007, uma escola de
Rudrapur (Grande Dacca) ganhou o prêmio Aga Khan de
Arquitetura. Construída à
mão com bambu, a escola
tem uma estrutura que aproveita a luz natural, facilita
ventilação e dispersa o calor.
O governo tem papel coadjuvante nas iniciativas ecológicas. Os maiores incentivadores são as ONGs e instituições do terceiro setor.
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