São Paulo, quarta-feira, 25 de agosto de 2010

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VINICIUS TORRES FREIRE

Quem te viu, quem te vê, PSDB


Serra critica ideia dilmista de "freio na economia", mas sempre defendeu políticas que teriam o mesmo efeito

"DÁ PARA arrumar, mas não precisa de um freio na economia. Não acredito nisso", disse José Serra (PSDB) a respeito do embrião de política econômica para o início de um governo Dilma Rousseff (PT). Bidu.
Os contornos desse programa, vagos como toda ultrassonografia precoce, foram publicados na segunda-feira por esta Folha. Em suma, trata-se de conter gastos do governo, reduzir a dívida e baixar a meta de inflação de modo a fazer com que os juros caiam. De início, tais medidas tendem a reduzir o ritmo de crescimento econômico.
Em quanto? Depende da intensidade e da duração do "aperto" e da situação da economia mundial. Mas, posto assim, sem mais, parece um plano sensato, se não inevitável. O sufoco dura pouco. Os benefícios aparecem no médio prazo e duram.
Dilma desmentiu os "estudos" econômicos do comando de sua campanha, como era de esperar. Não quer ser pintada pelos adversários como a "candidata do arrocho".
Ainda que pianinho, Serra bateu nessa tecla previsível: bidu. Porém, a não ser que as ideias econômicas de Serra tenham passado por mutações teratológicas de um ano para cá, a crítica do candidato tucano aos petistas traveste seu pensamento para o teatro da campanha.
Na sua carreira de economista e administrador, Serra defendeu, quando não praticou, controle de gastos públicos. Até o ano passado, pelo menos considerava que a carga de impostos tinha chegado ao limite. Achava também que as taxas de juros e de câmbio estão fora do lugar, assim como os juros; que o deficit externo cresce rápido demais.
No entanto, a fim de limitar a fatia de impostos no PIB, é preciso conter gastos. A fim de conter excessos no deficit externo, também. Qualquer medida responsável para lidar com o câmbio valorizado demais, se Serra imaginar alguma, depende de controle de gastos. O mesmo se pode dizer da taxa de juros.
PSDB, quem te viu, quem te vê.
"Cortar gastos" não significa necessariamente gastar menos do que agora, em termos absolutos, mas reduzir o gasto como parcela do PIB. O gasto pode até crescer, mas menos que a economia. Mas não é possível fazer tal contenção limitando o cafezinho ou as passagens aéreas. As despesas grandes são aquelas com a folha dos servidores, suas aposentadorias, aposentadorias do INSS. Compreende-se, é óbvio, que tratar do assunto é encrenca eleitoral. Serra, ao menos, poderia se dispensar do vexame da crítica oportunista.
Serra ainda tem o que dizer, e tem algum tempo para fazê-lo. Sua candidatura está em coma, mas não morta, como querem fazer crer as prematuras discussões sobre a montagem do governo Dilma. Se tirar quatro pontos da petista, conseguirá ao menos um segundo turno, tudo o mais constante. Se perder fazendo boas críticas, ao menos terá prestado um serviço que seu partido não fez, o de ser oposição.
Dilma apoia disparates de dezenas de bilhões de reais, como o trem-bala, projeto que só fica de pé com subsídio do governo, dinheiro de impostos. O governo de que fez parte toca a cada vez mais escabrosa capitalização da Petrobras, que politiza do modo mais deletério, se não vier mesmo a ser ilegal, o preço das ações de uma empresa aberta e o quanto cada acionista terá de seu capital. Bons motivos para chutar a candidatura adversária não faltam.

vinit@uol.com.br


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