São Paulo, quinta-feira, 25 de agosto de 2011

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VINICIUS TORRES FREIRE

Banca privada sai, estatal fica


Crédito de bancos privados começa a desacelerar e bancos públicos ainda mantêm ritmo forte

DESDE MAIO, os bancos privados estão emprestando relativamente menos dinheiro. Pelo menos, a quantidade de dinheiro emprestado e ainda não pago (saldo do estoque de crédito) vem crescendo cada vez mais devagar.
A partir de maio, o estoque de crédito do BNDES voltou a acelerar -o BNDES é o banco estatal de desenvolvimento. No conjunto, o estoque de crédito dos bancos estatais voltara a acelerar desde março.
Dá para dizer que se trata de uma reedição, em escala muito reduzida, da estratégia de 2008-2009?
A partir do trimestre final de 2008, quando os bancos privados saíram de cena, o governo empurrou os estatais para o meio do palco, os obrigando a sustentar a oferta de crédito em meio ao tumulto da crise mundial. Entre 2008 e o início de 2010, os bancos estatais chegavam a ser responsáveis por 60% a 80% do aumento do estoque de crédito, o dobro do que era costumeiro nos meses anteriores à crise.
Números tão brutos não permitem deduzir os motivos específicos de cada setor da banca. Mas, pela conversa dos bancos privados maiores na rodada recente de divulgação de balanços, alguns clientes se afastaram, devido a juros altos, e outros foram afastados, pois os bancos passaram a apertar os critérios de concessão de empréstimos.
Os bancos públicos, alguns deles comerciais, como Banco do Brasil e Caixa, estariam em geral mais dispostos a emprestar? Também difícil dizer, embora os estatais tenham liderado o aumento do estoque de crédito recente, em particular em julho, segundo balanço divulgado ontem pelo Banco Central.
Um dado que ajuda a entender um pouco mais a evolução recente de crédito é a participação do crédito direcionado no aumento recente do estoque de crédito.
"Crédito direcionado", grosso modo, é o dinheiro emprestado pelo BNDES mais aquele que os bancos são obrigados a emprestar a tal ou qual setor, com taxas e/ou condições fixadas pelo governo, extramercado. Por exemplo: crédito rural no Banco do Brasil, crédito imobiliário com recursos da poupança e do FGTS (a Caixa Econômica Federal é forte no setor imobiliário).
Em julho, o equivalente a 55% do aumento do estoque de crédito deveu-se ao BNDES e ao crédito para habitação com recursos direcionados (nem todo ele estatal, observe-se) . Em maio e junho, tal conta andava em torno de 31%. Em março e abril, em torno de 22%.
Não houve aceleração notável do crédito imobiliário nesses meses; o estoque do BNDES deu um salto maior apenas em julho (na comparação anual o BNDES até desacelera bem). O crédito do setor privado para consumo (afora habitação) e empresas é que parece, ressalte-se, ter murchado.
Em suma, e apesar de todas as ressalvas, há indícios de que os bancos públicos estão colaborando menos, vamos dizer assim, no esforço de desaquecer a economia e, pois, de conter a inflação.
Com inflação menor, seria possível antecipar o início da derrubada da taxa de juros básica da economia. Esse seria um objetivo oficial do governo Dilma Rousseff, pregado e alardeado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. O governo agora também vai orientar os bancos públicos a apertar também o crédito?

vinit@uol.com.br


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