São Paulo, domingo, 25 de setembro de 2011

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MINHA HISTÓRIA

O REESTRUTURADOR DE EMPRESAS

Ricardo Negreiros já foi o "auditor chato" das empresas, mas agora é disputado por aquelas que querem estrear na Bolsa

Ricardo Negreiros trabalha há 30 anos com reestruturação de empresas. Ajuda firmas familiares a investir na contabilidade para abrir capital na Bolsa. Trabalhou com a construtora MRV, a CCE, a cervejaria Devassa, o banco Pactual e a Droga Raia.

Letícia Moreira/Folhapress
O contador Ricardo Negreiros

(...) Depoimento a


TONI SCIARRETTA
DE SÃO PAULO

Nasci em Fortaleza, em uma família aristocrática, mas que ficou sem dinheiro e se afundou até ter de morar num sítio sem luz e água. Foi lá que fiz o primeiro biscate: vender vela no cemitério.
Minha carreira mesmo começou quando cheguei ao Rio, aos 12 anos. Para ajudar em casa, fiz faxina em escritório, distribuí panfletos e vendi pastéis no Maracanã.
O primeiro emprego formal foi como office-boy no Citibank, aos 16 anos.
Depois, entrei no curso de engenharia, mas não tinha como pagar a faculdade. Como passei em primeiro lugar, o Citi abriu a exceção das exceções e pagou o curso, exigindo nota mínima oito.
Somente saí do Citi para virar auditor da Arthur Andersen. Foi lá que compreendi a importância dos controles para as empresas: a ausência deles provoca uma "cegueira gerencial".
Algumas delas não têm controle das vendas nem da inadimplência -só a sorte as protege. Outras não controlam nem a margem de ganho nem o giro de cada produto -sem previsibilidade, acabam com problema de caixa. Redes de lojas não sabem quanto lucram por metro quadrado de aluguel. Outras não monitoram a concorrência e ficam para trás.
Na Andersen, virei o responsável pela auditoria da então Pactual DTVM -embrião do atual BTG Pactual. De "contador chato", que relatava os muitos problemas do Pactual, fui convidado para trabalhar lá, com 26 anos.
O banco tinha problemas de controle. Para ficar em ordem, precisava consertar a forma como as informações chegavam de cada área. Tive de organizar os departamentos de suporte, câmbio, fundos e o antigo open market [mercado de juros].
Com as áreas estratégicas bem controladas, o Pactual podia arriscar operações ousadas sem medo de errar.
Os controles não foram só úteis para a gestão do banco. Foram importantes para a área de fusões e aquisições. Minha primeira grande operação foi a venda da Lacta.
Após dez anos no Pactual, decidi criar minha empresa. Nos últimos anos, preparamos várias companhias para fazerem IPO [lançamento de ações].
Para quem chama nosso trabalho de "enfeitar a noiva", digo que a noiva só fica bonita quando há beleza nela. Investidores profissionais não se enganam por maquiagens. É importante, porém, realçar os dotes potenciais de qualquer companhia.
Quando chegamos a uma empresa, é comum que diretores e gerentes se ressintam da necessidade de vir "alguém de fora" para resolver algo que eles já deveriam ter cuidado. Os testes que nos impõem são sutis e só a elegância no trato é que nos garante respeitabilidade.
Não demora e os clientes percebem que não disputamos espaço, só indicamos caminhos. Eles se dão conta de que arregaçamos as mangas; veem que queremos preservar empregos -e não cortar custos. A gente se sente como médico de empresa. Mas o reestruturador não consegue fazer nada se não tiver o aval do dono do negócio.
Olho minha história e tento encontrar as razões para ter me tornado um reestruturador de empresas. Acho que sempre fui inconformado com as adversidades da vida.


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