São Paulo, sábado, 25 de dezembro de 2010

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Violência marca desapropriação nos projetos

ENVIADO ESPECIAL A MOQI YING
(CHINA)


A coluna lesionada para sempre e 32 mil yuan (R$ 8.150). Foi tudo o que o camponês Li Chang Jiang, 39, conseguiu ao protestar contra a desapropriação da área comum de sua vila para a passagem do trem-bala entre Pequim e Xangai.
Li estava em casa no dia 19 de outubro de 2008 quando um dos líderes comunitários da vila de Moqi Ying (60 km de Pequim) o convocou para protestar contra o Escritório Chinês de Construção da Ferrovia, responsável pelas obras. Se não fosse, argumentou o líder, não teria direito à indenização.
A contragosto, diz, Li acompanhou outros 50 moradores até o canteiro de obras. Lá, não foram recebidos pelo chefe local como esperavam, mas por cerca de cem operários empunhando barras de ferro. Li foi um dos oito manifestantes mais brutalmente espancados.
"Fui cercado por dez pessoas. Protegi a minha cabeça e me curvei, recebendo pancadas nas costas. No começo não senti nada, mas depois não podia me mexer e fiquei no chão."
O camponês foi levado ao hospital, onde esperou cinco horas enquanto os moradores recolhiam dinheiro para pagar pelo atendimento. Foram 80 dias internados.

REPERCUSSÃO
O caso acabou sendo divulgado pela mídia estatal e ganhou repercussão nacional. Li foi entrevistado no hospital, o governo local arcou com as suas despesas.
Na época, a construtora afirmou que o espancamento foi iniciativa dos funcionários, que estariam insatisfeitos com o atraso no início das obras por causa das desapropriações. De braços cruzados, não eram pagos.
Por indenização, Li recebeu R$ 8.150. A maior compensação foi a um vizinho seu, declarado incapacitado: R$ 38,2 mil.
O camponês diz que já não recebe ajuda, apesar de ter os movimentos limitados e ainda sentir dores.
O caso dos oito camponeses não foi o único. Um mês antes, o camponês Xu Jin Ying foi espancado por funcionários da mesma empresa enquanto trabalhava em sua parcela, que estava no traçado do trem-bala.
Lu, ferido na cabeça e nas costas, ficou 40 dias no hospital. Em seguida, chegou a um acordo para a indenização dos 30 m2perdidos para a ferrovia.
Apesar do espancamento, o pai disse entender a pressa para a construção. "A ferrovia Pequim-Xangai é um projeto nacional. Se o prazo atrasar, é ruim para o desenvolvimento do país", disse. "Não podemos dizer se o acordo foi bom ou não, somos apenas cidadãos normais. Não podemos lutar contra o país." (FM)


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