São Paulo, sábado, 25 de dezembro de 2010

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Trem-bala alcançará 90% dos chineses

Rede de alta velocidade ligará capitais de Província e cidades com mais de 500 mil habitantes do país até 2020

Investimentos no setor ferroviário somam US$ 300 bilhões; parque de alta velocidade no país supera malha mundial

FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM

Projetada para ser a maior linha de trem-bala do mundo, a ferrovia Pequim-Xangai reviu seu cronograma de obras. Mas não para trás, como o leilão do TAV (Trem de Alta Velocidade) entre Campinas e o Rio de Janeiro: a inauguração deve ser antecipada em seis meses, para junho do ano que vem.
Com 1.318 km e orçamento de US$ 33,9 bilhões, a ferrovia que ligará as duas maiores cidades chinesas é parte do ambicioso projeto estatal de interligar, até 2020, todas as capitais de Província e municípios com mais de 500 mil moradores, num total de 16 mil km. Mais de 90% da população do país será servida pela rede.
Já estão em funcionamento 7.531 km de ferrovias de alta velocidade na China, mais do que a soma de todas as linhas de trem-bala do resto do mundo. O Brasil, que planeja inaugurar o trecho entre o Rio de Janeiro e Campinas em 2016, tem hoje cerca de 11 mil km de ferrovias em uso.

FINANCIAMENTO
O investimento no setor totalizará cerca de US$ 300 bilhões, provenientes de origem estatal, com financiamento de bancos públicos aos governos nacional e provinciais.
A rapidez chinesa não é só no ritmo das obras. Aprimorando a tecnologia adquirida em joint-ventures com as principais fabricantes mundiais do setor, a China produz o trem-bala mais rápido do mercado.
No último dia 6, o CRH380 atingiu 486,1 km/h, quebrando o próprio recorde estabelecido há dois meses atrás. O teste foi realizado num trecho já pronto da Pequim-Xangai, cujos trens andarão a uma velocidade média de 350 km/h.
Para suprir a demanda, a estatal CSR está fabricando 900 trens de alta velocidade, mais do que toda a frota existente hoje na Europa, segundo a UIC (União Internacional de Ferrovias, na sigla em inglês).
O salto em tão pouco tempo é resultado de um pesado investimento estatal em tecnologia em desenvolvimento: 600 empresas e cerca de 150 mil pesquisadores estão dedicados ao setor, segundo informou a agência estatal Xinhua.

RECONHECIMENTO
"Talvez seja o maior programa planejado de investimento em trens de passageiros já feito por um país", afirma um estudo do escritório do Banco Mundial (Bird) em Pequim.
"O Ministério de Ferrovias acredita que a linha de trens rápidos (...) fará a China ainda mais economicamente competitiva e conectará regiões díspares deste vasto país como nunca antes."
De acordo com esse estudo, um dos benefícios da construção de novas linhas é a liberação das ferrovias mais antigas para o transporte de carga, também em crescente demanda -média de 1,3% ao ano.
Mesmo com a enorme demanda interna, a China se prepara para exportar o seu trem-bala: um consórcio do país estuda participar da licitação brasileira, em abril, e do projeto de uma linha na Califórnia.
Uma das vantagens do trem-bala chinês é o seu custo, pelo menos dentro do país: de US$ 35 milhões a US$ 70 milhões por quilômetro, dependendo do terreno. No projeto brasileiro, o custo estimado é de US$ 39,1 milhões.

ENDIVIDAMENTO
O ritmo alucinante tem provocado ressalvas de que a expansão talvez seja grande demais. No mês passado, o centro de estudo estatal Academia Chinesa de Ciências afirma que as obras, aceleradas após 2008 como forma de contra-arrestar a crise econômica, têm gerado um nível insustentável de endividamento.
Um exemplo é a linha Wuhan-Guangzhou, hoje a maior do mundo, com 1.086 km, que funciona com metade de sua capacidade e nunca pagará o financiamento de sua construção, segundo o jornal "Financial Times".


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