São Paulo, sábado, 26 de fevereiro de 2011

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ROBERTO RODRIGUES

São Paulo Fashion Week agro


A SPFW é uma festa para os olhos e para o bolso de alguns, mas não seria realizada sem a agricultura


HÁ POUCAS SEMANAS terminou a 30ª edição da São Paulo Fashion Week, com resultado espetacular.
O evento ocupou três andares da Bienal, envolvendo 3.000 profissionais e movimentando R$ 1,5 bilhão durante os seis dias de sua duração, nos quais 350 modelos enfrentaram a passarela.
Não é para menos. O setor têxtil e de confecção impulsiona uma economia que reúne 30 mil empresas de todos os tamanhos, empregando quase 2 milhões de brasileiros, dos quais 75% são mulheres.
Só em 2010 foram gerados 65 mil postos de trabalho, com faturamento próximo de US$ 50 bilhões e produção de 10 bilhões de peças. São duas feiras por ano, uma de inverno e outra de verão, de modo que a SPFW já se realiza há 15 anos!
Quando começou, dizia-se que o Brasil demoraria pelo menos uns 30 anos para se colocar bem no mercado da moda. Na metade do tempo, o país já é reconhecido mundialmente. E este é o quarto ano em que a SPFW é sustentável, sendo o primeiro evento de moda neutro em carbono no mundo: os geradores são tocados a biodiesel, a iluminação é limpa e a emissão de CO2 é reduzida.
A SPFW foi um festival de glamour. Mulheres maravilhosas desfilaram com graça, mostrando suas curvas belíssimas em roupas ousadas, umas mais e outras menos exibidoras do esplendor de um "dream team" de brasileiras como Gisele Bündchen ou estrangeiras como Paris Hilton.
Uma festa para os olhos. E também para o bolso de alguns atores principais nesse teatro espetacular.
Mas ela não seria realizada sem a agricultura. Entre as tendências para o inverno de 2011 está o acabamento com pele natural. E a do coelho foi a mais usada, embora muitos tenham investido na pelúcia sintética, ampliando o debate sobre o uso de pele animal na moda contemporânea. Ora, "sendo a carne de coelho um alimento, o uso de sua pele é sustentável", argumentam os favoráveis ao uso. Debate instigante.
Mas ninguém tem nada contra o algodão: trata-se de uma fibra natural. E aqui entra a magia da pesquisa agronômica que fez a Embrapa produzir o algodão colorido, cultivado por pequenos, médios e grandes produtores. E a SPFW deve muito aos Maeda, tradicionais cotonicultores brasileiros, e aos nossos heróis do oeste da Bahia ou de Mato Grosso, produtores do fio de qualidade internacional que impulsiona a nossa indústria da moda.
Um designer da feira desfiou o algodão para dar um efeito de lã a uma manta. Aliás, a lã também é agrícola, pois vem das ovelhas que não cresceriam sem pastos e rações produzidas com milho e soja... E é orgânica, como o "couro opaco".
Outros agricultores estiveram por trás da SPFW: os de seda e de linho, por exemplo, bem como os silvicultores, os pecuaristas, os heveicultores, os floricultores, dando espaço a todo tipo de roupa.
Os sapatos foram feitos de couro e da madeira que entra na fabricação dos saltos. Bolsas são de couro e tecido (lona). Borracha natural também entra em várias peças.
E os perfumes usados pelas meninas? Sem flor não existiriam! Os desenhos das roupas, riscados em papel, só são feitos porque temos árvores plantadas. Engraçado: moda também é agro! Aliás, é com champanhe e com vinho -tudo vem da uva rural- que se brindou o sucesso do evento. E alimentos saudáveis garantem o escultural corpo das modelos.
É isso, o agro empurrando a SPFW: o nosso setor têxtil é o quinto maior do mundo, e crescendo. Com as mesmas dores do agro em geral: câmbio, impostos, juros e logística.
Tanto que, em 2010, as empresas têxteis e de confecção brasileiras amargaram deficit de US$ 3,5 bilhões na sua balança comercial. Está muito mais fácil importar do que exportar. Câmbio ruim!
Moda e agro estão juntas nisso também: em 2010, 97% do faturamento dos têxteis, segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil, veio das vendas no mercado interno. Em 2011 espera-se que as exportações cresçam 10% em relação ao ano passado. Vestuário com alto valor agregado pode contribuir para isso.
Tudo muito parecido com o agro...


ROBERTO RODRIGUES, 67, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e professor do Depto. de Economia Rural da Unesp - Jaboticabal, foi ministro da Agricultura (governo Lula). Escreve aos sábados, a cada 15 dias, nesta coluna.

rr.ceres@uol.com.br

AMANHÃ EM MERCADO:
Fábio Barbosa


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