São Paulo, quarta-feira, 26 de maio de 2010

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ANÁLISE

É preciso avaliar os riscos do deficit nas contas externas para a economia

ROBERTO GIANNETTI DA FONSECA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Brasil registrou em abril deficit em transações correntes de US$ 4,583 bilhões, ante superavit de US$ 105 milhões um ano atrás. Essa conta se faz considerando tudo o que país gasta e recebe do exterior na forma de exportações, importações, serviços, juros, contas de turismo, fretes e seguros. Quando se registra um deficit dessa magnitude, significa que gastamos no exterior muito mais do que recebendo por conta de nossas exportações e serviços.
Como as contas externas se liquidam com moedas conversíveis, o Brasil precisaria no mesmo período atrair investimentos estrangeiros em valor igual ou superior ao referido deficit.
No entanto, os investimentos estrangeiros diretos no país somaram apenas US$ 2,223 bilhões em abril, ante US$ 3,409 bilhões no mesmo mês de 2009.
Diante desse quadro, três questões podem ser colocadas para o debate.
Primeiro, se faz sentido manter um sustentável nível de deficit em conta-corrente, à medida que dessa forma estaríamos agregando um valor de poupança externa à nossa economia, já que os níveis de poupança doméstica se mostram insuficientes para manter um nível de investimento adequado ao crescimento econômico potencial.
E qual o limite superior desse deficit em relação ao PIB, sem que resulte em grave crise cambial, como já ocorreu com o Brasil e outros países em passado recente.

CAUSAS
O segundo ponto se refere às causas do deficit. Podem ser estruturais ou conjunturais, ou mesmo uma combinação de ambas, relacionadas quase sempre à competitividade relativa de uma economia ante as outras.
No caso brasileiro, muitas causas de maior ou menor influência poderiam ser relacionadas, mas nenhuma tem a relevância da taxa de cambio apreciada, que estimula as importações e os gastos no exterior de forma excessiva, enquanto reduz a competitividade das exportações brasileiras de bens e serviços.
O terceiro ponto seriam as consequências econômicas diante dessa tendência. A mais séria seria a restrição externa ao crescimento, devido à dificuldade de manter um adequado financiamento desse deficit, além da imposição de limites à capacidade do país de importar bens e serviços e atrair novos capitais de investimento.
Já vimos esse triste filme na década perdida de 1980. Será que agora estamos assistindo a um trailer do próximo episódio dessa série? Que se pronunciem os candidatos à Presidência da República.


ROBERTO GIANNETTI DA FONSECA, economista e empresário, é diretor titular de Comércio Exterior e Relações Internacionais da Fiesp.


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