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ANÁLISE
É preciso avaliar os riscos do deficit nas contas externas para a economia
ROBERTO GIANNETTI DA FONSECA
ESPECIAL PARA A FOLHA
O Brasil registrou em abril
deficit em transações correntes de US$ 4,583 bilhões, ante superavit de US$ 105 milhões um ano atrás.
Essa conta se faz considerando tudo o que país gasta e
recebe do exterior na forma
de exportações, importações, serviços, juros, contas
de turismo, fretes e seguros.
Quando se registra um deficit dessa magnitude, significa que gastamos no exterior
muito mais do que recebendo por conta de nossas exportações e serviços.
Como as contas externas
se liquidam com moedas
conversíveis, o Brasil precisaria no mesmo período
atrair investimentos estrangeiros em valor igual ou superior ao referido deficit.
No entanto, os investimentos estrangeiros diretos no
país somaram apenas US$
2,223 bilhões em abril, ante
US$ 3,409 bilhões no mesmo
mês de 2009.
Diante desse quadro, três
questões podem ser colocadas para o debate.
Primeiro, se faz sentido
manter um sustentável nível
de deficit em conta-corrente,
à medida que dessa forma estaríamos agregando um valor de poupança externa à
nossa economia, já que os níveis de poupança doméstica
se mostram insuficientes para manter um nível de investimento adequado ao crescimento econômico potencial.
E qual o limite superior
desse deficit em relação ao
PIB, sem que resulte em grave crise cambial, como já
ocorreu com o Brasil e outros
países em passado recente.
CAUSAS
O segundo ponto se refere
às causas do deficit. Podem
ser estruturais ou conjunturais, ou mesmo uma combinação de ambas, relacionadas quase sempre à competitividade relativa de uma economia ante as outras.
No caso brasileiro, muitas
causas de maior ou menor influência poderiam ser relacionadas, mas nenhuma tem
a relevância da taxa de cambio apreciada, que estimula
as importações e os gastos no
exterior de forma excessiva,
enquanto reduz a competitividade das exportações brasileiras de bens e serviços.
O terceiro ponto seriam as
consequências econômicas
diante dessa tendência. A
mais séria seria a restrição
externa ao crescimento, devido à dificuldade de manter
um adequado financiamento
desse deficit, além da imposição de limites à capacidade
do país de importar bens e
serviços e atrair novos capitais de investimento.
Já vimos esse triste filme
na década perdida de 1980.
Será que agora estamos assistindo a um trailer do próximo episódio dessa série? Que
se pronunciem os candidatos
à Presidência da República.
ROBERTO GIANNETTI DA FONSECA,
economista e empresário, é diretor titular
de Comércio Exterior e Relações
Internacionais da Fiesp.
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