São Paulo, segunda-feira, 26 de julho de 2010

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Avanço ameaça patrimônio histórico

Evento da Unesco que começou ontem em Brasília debate riscos do progresso sobre a conservação de bens

Para especialista, projeto habitacional ou empresarial em centros históricos não pode se pautar só pelos custos

DE SÃO PAULO

Nunca houve tantos recursos para a preservação do patrimônio histórico brasileiro, mas o desenvolvimento do país também é ameaça se não houver consciência de sua importância.
Discussões sobre como o patrimônio pode participar do crescimento econômico pontuaram o debate sobre o Desenvolvimento e o Patrimônio Histórico, promovido pela Folha na sexta-feira.
O evento aconteceu à véspera da 34ª sessão do Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco, que começou ontem em Brasília. Mais de 800 especialistas de 187 países vão discutir os riscos e o estado de conservação dos bens listados pelo mundo e o impacto do progresso nos mesmos.
Para especialistas presentes ao debate, o marketing e o fetiche de certos monumentos são ainda a principal ponte entre a iniciativa privada e a preservação.
O presidente do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), Luiz Fernando de Almeida, anunciou que a Unesco e o órgão vão instalar, no Rio de Janeiro, um centro de formação de gestores de patrimônio histórico para a América do Sul e a África lusófona.
O centro ficará no Palácio Capanema, antigo Ministério da Educação, obra de 1937 de um time de arquitetos liderado por Le Corbusier, Oscar Niemeyer e Lúcio Costa.
"Hoje em dia, quando vários prédios tombados são reformados, o tapume ou a placa só indica quem realiza o restauro e quanto custou. O próprio gestor se esquece de colocar o significado da obra, quando foi construída ou por que é importante", disse.

GRANDES CIDADES
Jurema Machado, coordenadora de cultura da Unesco, afirmou que uma das discussões sobre desenvolvimento se refere à preservação de centros históricos das grandes cidades.
"Eles receberam décadas ou séculos de investimentos, de conhecimento, de infraestrutura e a mesma sociedade que os produziu agora os abandona."
Para ela, projetos habitacionais ou empresariais nos centros históricos não podem se pautar só pelos custos. "É claro que fazer habitação ali será mais caro que o metro quadrado de uma Cohab, mas quanto uma cidade ganha com a preservação?"
A realidade de São Paulo, onde projetos de revitalização do centro histórico não conseguiram estancar o êxodo das grandes empresas para novos subúrbios, também foi discutida.
"O interesse do mercado imobiliário por terrenos grandes neste momento ameaça a sobrevivência de grandes galpões que representam a história fabril da cidade", disse o arquiteto e professor da USP Nabil Bonduki. "O projeto do Sesc Pompeia, de Lina Bo Bardi, continua como referência de nova vocação de uso."


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