|
Texto Anterior | Índice
Avanço ameaça patrimônio histórico
Evento da Unesco que começou ontem em Brasília debate riscos do progresso sobre a conservação de bens
Para especialista, projeto habitacional ou empresarial em centros históricos não pode se pautar só pelos custos
DE SÃO PAULO
Nunca houve tantos recursos para a preservação do patrimônio histórico brasileiro,
mas o desenvolvimento do
país também é ameaça se
não houver consciência de
sua importância.
Discussões sobre como o
patrimônio pode participar
do crescimento econômico
pontuaram o debate sobre o
Desenvolvimento e o Patrimônio Histórico, promovido
pela Folha na sexta-feira.
O evento aconteceu à véspera da 34ª sessão do Comitê
do Patrimônio Mundial da
Unesco, que começou ontem
em Brasília. Mais de 800 especialistas de 187 países vão
discutir os riscos e o estado
de conservação dos bens listados pelo mundo e o impacto do progresso nos mesmos.
Para especialistas presentes ao debate, o marketing e o
fetiche de certos monumentos são ainda a principal ponte entre a iniciativa privada e
a preservação.
O presidente do Iphan
(Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional),
Luiz Fernando de Almeida,
anunciou que a Unesco e o
órgão vão instalar, no Rio de
Janeiro, um centro de formação de gestores de patrimônio histórico para a América
do Sul e a África lusófona.
O centro ficará no Palácio
Capanema, antigo Ministério
da Educação, obra de 1937 de
um time de arquitetos liderado por Le Corbusier, Oscar
Niemeyer e Lúcio Costa.
"Hoje em dia, quando vários prédios tombados são reformados, o tapume ou a placa só indica quem realiza o
restauro e quanto custou. O
próprio gestor se esquece de
colocar o significado da obra,
quando foi construída ou por
que é importante", disse.
GRANDES CIDADES
Jurema Machado, coordenadora de cultura da Unesco,
afirmou que uma das discussões sobre desenvolvimento
se refere à preservação de
centros históricos das grandes cidades.
"Eles receberam décadas
ou séculos de investimentos,
de conhecimento, de infraestrutura e a mesma sociedade
que os produziu agora os
abandona."
Para ela, projetos habitacionais ou empresariais nos
centros históricos não podem se pautar só pelos custos. "É claro que fazer habitação ali será mais caro que o
metro quadrado de uma Cohab, mas quanto uma cidade
ganha com a preservação?"
A realidade de São Paulo,
onde projetos de revitalização do centro histórico não
conseguiram estancar o êxodo das grandes empresas para novos subúrbios, também
foi discutida.
"O interesse do mercado
imobiliário por terrenos
grandes neste momento
ameaça a sobrevivência de
grandes galpões que representam a história fabril da cidade", disse o arquiteto e
professor da USP Nabil Bonduki. "O projeto do Sesc
Pompeia, de Lina Bo Bardi,
continua como referência de
nova vocação de uso."
Texto Anterior: Maria Inês Dolci: Consumidor sem meias verdades Índice
|