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Governo investe R$ 14 bi em gás ocioso
Petrobras já não tem comprador para produção atual; decisões foram tomadas em época de falta do produto
Até o meio deste ano, Brasil queimava o equivalente a 12%
de todo o consumo
de gás natural do país
Ricardo Cassiano - 20.ago.10/Folhapress
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Navio alugado pela Petrobras para transportar gás, atracado perto da ilha de Boqueirão (zona norte do Rio de Janeiro)
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DIMMI AMORA
DE BRASÍLIA
A Petrobras começa a operar até dezembro um investimento de R$ 11,7 bilhões que
vai aumentar a oferta de gás
natural processado no país
em um terço do consumo
atual, mas não terá a quem
vender, porque o mercado
brasileiro já está abastecido.
O complexo inclui a maior
plataforma de gás do país,
para explorar os campos Mexilhão e Uruguá-Tambaú, gasodutos e uma unidade de
tratamento em Caraguatatuba (SP). Houve ainda investimentos em unidades no Rio
de Janeiro e no Ceará, com
mais R$ 2,5 bilhões.
Um documento enviado
neste mês pela Petrobras à
Amprogás (associação de
municípios produtores) confirma que "o suprimento da
demanda de gás natural da
região está garantido".
Inicialmente, ela planejava iniciar a operação em Caraguatatuba em 2009, mas
atrasou. Foi em razão do
equilíbrio do mercado, diz o
ofício, que a estatal desistiu
de perfurar um gasoduto que
agilizaria o escoamento do
gás processado em Caraguatatuba para outras cidades.
Além do litoral paulista, a
estatal construiu terminais
de gás natural liquefeito, um
no Rio e outro no Ceará.
Esses terminais, que desde
a inauguração passaram a
maior parte do tempo ociosos, são abastecidos com gás
congelado por navios alugados durante dez anos, por
R$ 160 milhões por ano.
Os investimentos foram
decididos em 2007, em razão
da crise do gás, quando faltou produto no mercado.
DECISÃO ESTRATÉGICA
Pressionada, a Petrobras
decidiu injetar recursos nesses terminais. Os projetos começaram a ficar prontos no
final de 2008, mas a crise
mundial reduziu o consumo.
Segundo especialistas,
houve ainda erro de estratégia da empresa, que detém
monopólio no país, de aumentar o preço do gás para
bancar investimentos. O resultado é que agora sofre para captar clientes.
Outra prospecção que amplia o potencial de gás no
Brasil foi a descoberta de um
campo com até 15 trilhões de
pés cúbicos no Maranhão,
anunciada por Eike Batista.
A produção diária, estimou a
empresa OGX, pode chegar a
mais 15 milhões de m3/dia.
Além da produção nacional, que cresce, o Brasil é
obrigado a comprar gás da
Bolívia. Em 2009, a Petrobras
deixou de usar 8% do mínimo que tem que importar por
ano do vizinho. E pagou por
isso. Até o meio deste ano, o
Brasil queimava o equivalente a 12% de todo o consumo
comercial nacional, por não
ter o que fazer com o gás.
Analistas e especialistas
veem um descompasso no
setor. Faltaram equacionar o
ritmo de exploração e construção de dutos pelo país,
uma política de distribuição
confiável e preços regulados.
"É incrível que haja uma
fonte limpa, mas não tenham
sido planejadas a distribuição e a política de preços",
diz Carlos Cavalcanti, diretor
de energia da Fiesp.
Para o diretor de gás da Arsesp (agência reguladora de
São Paulo), Zevi Kann, o preço afugentou empresas. "Investimentos não devem ser
pagos pelo consumidor. A
empresa deve fazê-los e, aí
sim, colocar no seu preço."
Segundo Wagner Marques
Tavares, consultor de energia da Câmara, o monopólio
interfere na lei da oferta e da
procura. "Nos EUA e na Europa, a rede de gasodutos é
grande e há concorrência."
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