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Vale pretende criar "MIT" brasileiro
Inspirada no instituto dos EUA, empresa investe R$ 400 milhões em 3 centros e quer atrair "cérebros" do exterior
Diretor do ITV diz que, ao contrário dos EUA, necessidade no Brasil de institutos como o da Vale "não é muito clara"
CRISTINA GRILLO
DENISE MENCHEN
DO RIO
A Vale, segunda maior empresa de mineração do mundo -atrás só da BHP Billiton
e com valor de mercado de
cerca de US$ 145 bilhões-,
vai investir perto de R$ 400
milhões nos próximos quatro
anos para criar três centros
de pesquisa tecnológica de
ponta e de ensino de pós-graduação no país.
Para comandar as pesquisas e orientar os futuros alunos, ela está buscando "cérebros" em todo o mundo. Uma
empresa foi escolhida para
selecionar os doutores e os
pós-doutores que serão contratados -50 para cada uma
das unidades, estima a Vale.
"É a chance de repatriarmos "cérebros" brasileiros
que, por falta de oportunidade aqui, fizeram carreira lá
fora. E de trazer estrangeiros
que apostem no crescimento
do Brasil", explica Luiz Mel-
lo, diretor do ITV (Instituto
Tecnológico Vale).
O modelo inspirador é o
MIT (Instituto de Tecnologia
de Massachusetts), fundado
em 1865 e de onde já saíram
73 ganhadores do Prêmio Nobel -com o qual, inclusive, a
Vale já fez um convênio que
permitirá o intercâmbio de
professores e alunos.
Cada um dos centros terá
sua linha própria de pesquisa. O orçamento de implantação é de R$ 300 milhões.
O primeiro deles, em fase
inicial de construção, ficará
em Belém (PA). Lá a Vale
quer desenvolver estudos na
área de sustentabilidade. O
projeto é de Paulo Mendes da
Rocha, premiado em 2006
com o Pritzker, e de José Armênio de Brito Cruz.
Em Ouro Preto (MG), as
pesquisas estão voltadas para a área de mineração. A empresa já tem a área onde será
instalado o núcleo.
As construções ficarão a
cerca de três quilômetros do
centro histórico da cidade e
aguardam aprovação do
Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) para serem iniciadas.
O núcleo de São José dos
Campos será o último a ser
implantado e é voltado para
pesquisas sobre energia.
BOLSISTAS
Cada um dos núcleos poderá receber até 160 pesquisadores bolsistas, em processo de seleção pelas Fundações de Amparo à Pesquisa
(FAPs) de Pará, Minas Gerais
e São Paulo. As bolsas poderão ser de iniciação científica, mestrado e doutorado.
No total, serão destinados
R$ 120 milhões para os bolsistas -R$ 72 milhões da Vale, R$ 48 milhões das FAPs.
A seleção tem várias fases.
Consultores das fundações
fazem a primeira avaliação e
encaminham para a mineradora, que elabora uma espécie de lista de prioridades. A
decisão final é tomada pela
diretoria científica de cada
uma das fundações.
"Já recebemos cerca de 70
propostas", disse Douglas
Eduardo Zampieri, membro
da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo).
"A ideia é que a Vale contribua com a produção local
de conhecimento. Nosso
maior desafio é a atração e a
fixação de cérebros para a região", diz Maurílio Monteiro,
secretário de Desenvolvimento e Tecnologia do Pará.
O objetivo da mineradora
ao criar o ITV é simples -e ao
mesmo tempo ambicioso. "A
Vale, como empresa de mineração, tem perspectivas
para os próximos 100 anos.
Se temos atividade econômica com previsibilidade dessa
magnitude, devemos planejar esse futuro", diz Mello.
Mello veio do meio acadêmico. Pós-doutor em neurofisiologia pela Universidade
da Califórnia, era pró-reitor
de graduação da Unifesp
quando recebeu o convite da
Vale para montar o ITV.
Sabe das dificuldades de
integrar os meios acadêmico
e industrial. "Há um fosso,
há resistência dos dois lados.
Em outros países, como os
EUA, a necessidade de instituições como o ITV é muito
clara. Aqui, ainda não."
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