São Paulo, terça-feira, 26 de outubro de 2010

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ANÁLISE CITRICULTURA

Produção e processamento de suco estão nas mãos de poucas empresas, diz estudo

MAURÍCIO MENDES
ESPECIAL PARA A FOLHA

Na última quarta-feira, a Citrus BR reuniu a cadeia citrícola para apresentar o mais recente levantamento do setor -o "Retrato da Citricultura Brasileira".
Assim foi chamado o trabalho encomendado pela entidade que representa as principais indústrias do setor.
O trabalho apresentou, pelo lado da oferta brasileira de laranjas, o chamado "cinturão citrícola brasileiro", composto pelo Estado de São Paulo e pelo Triângulo Mineiro.
Pelo lado da demanda, mostrou detalhes dos mercado do suco brasileiro em todo o mundo.
O último levantamento (censo) que trazia informações sobre os produtores de cítricos -quantidade, tamanho e sua produtividade- foi realizado em 1995 pela Fundecitrus (órgão de pesquisa financiado por produtores e indústria).
De lá para cá havia somente levantamentos amostrais do setor no país.
O mapeamento vai se tornar uma importante ferramenta de planejamento, necessária para um setor que se caracteriza por decisões empresarias de maturação de longo prazo.
Desde o preparo do solo, para receber as mudas, até que elas tenham produção econômica, são necessários de seis a sete anos.
Sem boas informações, o risco de decisões equivocadas por parte dos produtores é muito grande.
Diferentemente de outras culturas, notadamente as de ciclos anuais, não se pode alternar o cultivo dos cítricos a todo momento.
No quesito produtores, o estudo mostrou uma queda de 15 mil para 12 mil citricultores entre 2001 e 2009. Esse número difere do dado com que trabalhávamos (queda de 13 mil para 8 mil), mas comprova a tendência a uma seleção drástica desses agricultores.
A queda é ainda maior se voltarmos até 1995, quando o censo da Fundecitrus indicava 23 mil produtores.

CONCENTRAÇÃO
O mapeamento traz uma série de outras informações referentes ao setor produtivo.
Os pequenos produtores são maioria: mais de 11 mil, ou 87% do total. Entretanto, eles têm apenas 20% do total de plantas.
Já os grandes produtores (acima de 200 mil plantas) são apenas 2% em número, mas cultivam 47% do total de plantas.
Não é só no elo de produção primária que se vê alta concentração no setor.
Três indústrias -Cutrale, Dreyfus e Citrovita/Citrosuco- têm 94% da capacidade de processamento de suco no Estado de São Paulo.
Pelo lado dos envasadores e supermercados, a concentração também é muito grande no país.
Nos Estados Unidos, os quatro maiores envasadores de suco detêm 75% do mercado; no Reino Unido, esse índice chega a 84%.
Fica também claro pelo estudo que a crise global e a grande quantidade de alternativas de bebidas não alcoólicas que surgiram nos últimos anos foram responsáveis pela grande queda no consumo de suco de laranja.
Mesmo sendo preferido nos mercados externo e interno, o suco de laranja tem sido preterido pelos sucos de maçã e de outras frutas exóticas, como a romã e o açaí, e também por chás, águas flavorizadas e refrescos de frutas.
Os dados mostrados pelo estudo ratificam algumas tendências que já vínhamos verificando, como a concentração de empresas, que estaria ocorrendo em todos os elos produtivos. Todos tentam buscar escala e maior competitividade.
Pelo lado dos produtores, se não é possível aumentar a escala, é preciso aumentar a produtividade da atividade.
Para tanto, o recomendável é investir em tecnologia com viabilidade econômica.


MAURÍCIO MENDES é CEO da AgraFNP, consultor do Grupo de Consultores em Citros e presidente da ABMR&A.


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