São Paulo, quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

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ALEXANDRE HOHAGEN

O ano que não vai terminar


Não há mais margem de erro para subestimar as transformações que o mundo digital nos traz


Há 572 anos, um alemão que trabalhava como ourives na cidade de Mainz, na Alemanha, inventou uma forma de imprimir em escala, de maneira simples e rápida. Até então, livros eram feitos a mão por escribas. Uma Bíblia levava um ano para ficar pronta. A impressora de Johannes Gutenberg era formada por letras de metal que se encaixavam numa fôrma de madeira. Untada com tinta de óleos vegetais, ela funcionava como um carimbo.
A famosa Bíblia de Gutenberg foi impressa pela primeira vez em 1455. Ele morreu em 1468 sem que sua invenção fosse amplamente reconhecida. Pior, Gutenberg não testemunhou o legado que sua tecnologia deixou para a humanidade: os impressos ajudaram a disseminar novas ideias, questionar dogmas e tiveram fundamental papel na revolução científica.
A primeira década do século 21 acabou de ficar para trás. E talvez tenha sido a mais fértil em termos de inovações e mudanças geradas por novas tecnologias. Imagine o que era a sua vida há pouco mais de dez anos sem Google, iPod, YouTube, Orkut, Facebook, Amazon etc.
Apesar da grande mudança que essas tecnologias trouxeram, ainda não sabemos calcular a profundidade das transformações que elas nos deixarão. Como bem disse Roy Amara, ex-presidente do Instituto do Futuro: "Nós tendemos a superestimar o impacto das novas tecnologias no curto prazo -e a subestimar seus efeitos no longo prazo".
Mas isso não é desculpa para ignorar as mudanças tecnológicas. Se não sabemos qual será o legado delas, é certo que ele existirá. Não há mais margem de erro para subestimar as transformações que o mundo digital está nos trazendo.
Nunca fui muito de ler sobre tendências e previsões, típicas notícias de final de ano fomentadas pelos "gurus de plantão". Desta vez resolvi me aventurar nessa seara, de forma mais concreta: comparei o que personalidades do mundo da tecnologia, mídia e alguns colegas esperam para 2011. A lista é imensa, mas poucos temas são, de fato, comuns.
Minhas apostas mais evidentes vão justamente para eles: a internet social, os aparelhos inteligentes (smartphones e tablets) e a nova publicidade serão os principais motores da inovação digital.
A internet se transformou numa imensa plataforma, capaz de agregar usuários com interesses e conhecimentos comuns ou complementares. Redes sociais como Orkut, Twitter e Facebook cada vez mais funcionarão como um ponto de encontro para que milhares de pessoas possam trocar informações, comentários, sugestões e ideias.
Ainda pouco explorada, a tendência é que essa massa de pessoas possa ajudar a lançar, por exemplo, plataformas de entretenimento (jogos on-line) e compras baseadas nas referências individuais ou coletivas (social commerce).
Com o avanço das tecnologias móveis, as pessoas estão cada vez mais ávidas por acessar a internet, não importa onde estejam. E com isso é evidente que haverá uma explosão na venda de tablets e smartphones em 2011.
Cada vez mais completos, esses aparelhos farão com que a vida digital de qualquer pessoa possa ser acompanhada por todos os lados.
Além de dar acesso a e-mails, contatos, fotos e vídeos, os aparelhos inteligentes serão fundamentais na crescente indústria de games, na promessa de ofertas de serviços e produtos baseados em sua geolocalização e na tão esperada tecnologia de pagamentos móveis, ainda em seus dias embrionários.
Da mesma forma, as mudanças na publicidade serão cada vez mais evidentes em 2011. Novas maneiras de anunciar baseadas no interesse do usuário, segmentadas pelos hábitos de navegação, pelo perfil social e por sua localização, ajudarão a aumentar a relevância da publicidade on-line. Grandes empresas estarão cada vez mais preparadas para migrar seus investimentos de publicidade de maneira mais equilibrada para a internet.
É certo que 2011 será outro ano fértil em inovações. Também é certo que ainda não sabemos como essas mudanças afetarão o futuro das nossas gerações. Mas, tal qual a impressora de Gutenberg, convém não subestimá-las.

ALEXANDRE HOHAGEN, 42, jornalista e publicitário, fundou a operação do Google no Brasil em 2005 e desde 2009 é presidente da empresa na América Latina. Escreve mensalmente, às quintas, nesta coluna.

colunadohohagen@gmail.com

AMANHÃ EM MERCADO:
Luiz Carlos Mendonça de Barros



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