São Paulo, terça-feira, 27 de julho de 2010

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Cresce dependência por capital volátil

Com recorde no deficit de contas externas no primeiro semestre, país fica mais dependente do capital de curto prazo

Capital de curto prazo cobrirá 30% do deficit em conta-corrente neste ano, maior percentual desde 1997


ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO

A dependência da economia brasileira de capital volátil para cobrir o rombo em suas contas externas -que registraram deficit recorde no primeiro semestre do ano (ver página B3)- deverá ser em 2010 a mais alta em mais de uma década.
Considerando as expectativas de mercado capturadas pelo Banco Central no boletim Focus, o fluxo de investimento estrangeiro direto (IED) para o país deverá somar US$ 33,7 bilhões neste ano, 70% dos US$ 40 bilhões projetados para o deficit em conta-corrente.
Esse é o menor percentual registrado desde 1997, quando o IED representou 64,6% do deficit em conta-corrente.
A diferença tem de ser coberta por fluxo de capital de curto prazo, que, ao contrário do IED, é volátil. Pode sair do país da noite para o dia.
Apesar da forte deterioração, o risco de que o país sofra uma crise de balanço de pagamentos, como as vividas em 1999 e 2002, é relativamente baixo hoje.
Em 1999 e 2002, as reservas internacionais do Brasil representavam apenas 28% e 45% da necessidade de financiamento externo (que inclui, além do resultado da conta-corrente, os vencimentos de dívida externa e os pagamentos de juros).
Ou seja, o BC não tinha poder de fogo suficiente para defender o real de forte fuga de capital.
A política do BC de acumular reservas nos últimos anos mudou o quadro. As reservas em moeda estrangeira (excluindo ouro) foram o dobro da necessidade de financiamento externo em 2009.
Embora essa relação deva cair em 2010, continuará alta, bem acima de 100%.
Em janeiro de 2003, as reservas internacionais brasileiras eram quase a metade do saldo registrado pela Índia: US$ 34,4 bilhões, ante US$ 70,6 bilhões. No fim de junho passado, os dois países empataram com um pouco mais de US$ 250 bilhões.

DEFICIT EM ALTA
O problema é que, para que o Brasil continue crescendo sustentado pela demanda doméstica, há um risco nada desprezível de que o deficit em conta-corrente siga aumentando.
Isso porque o país tem uma taxa baixa de poupança doméstica e não há sinal de que o setor público fará um ajuste em seus gastos para melhorar esse perfil.
Ainda que essa dinâmica não leve a uma crise de balanço de pagamentos, pode forçar uma desvalorização repentina do câmbio se o humor do mercado externo em relação ao Brasil mudar.
Ajuste rápido no câmbio pode levar a pressão inflacionária e, portanto, a aumento dos juros, com impacto negativo sobre o crescimento.


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