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Transação com exterior tem deficit recorde
Saldo negativo vai a US$ 5,2 bilhões em junho com remessas de empresas de países mais afetados pela crise
Gasto de brasileiros em viagens para fora dobra; resultado assusta BC, e acumulado em 12 meses é o pior no governo Lula
EDUARDO CUCOLO
DE BRASÍLIA
O aumento das remessas
de lucros e dividendos em junho surpreendeu o Banco
Central e levou o Brasil a registrar o pior resultado nas
contas externas para o mês e
para o semestre desde 1947.
A deterioração no comércio exterior e o aumento das
viagens de brasileiros para
fora também pesaram.
As transações correntes do
país com o exterior tiveram
um deficit de US$ 5,2 bilhões
no mês passado, quase o dobro do previsto pelo BC.
O número leva em conta os
gastos e as receitas das contas do comércio e dos serviços mais as transferências
unilaterais de recursos entre
um país e os demais.
No saldo de junho, quase
80% do valor se refere a remessas de lucros de empresas ou de investimentos no
mercado financeiro.
Esse movimento pode ser
explicado pelo bom desempenho da economia brasileira em relação a outros países.
Como lucraram mais aqui, as
empresas enviaram mais recursos para ajudar as matrizes, em países mais afetados
pela crise econômica global
-sobretudo na Europa.
As que mais enviaram recursos foram as de veículos,
química e energia.
Parte das remessas reflete
também o retorno de investimentos recentes.
MOVIMENTO CONTINUA
Para o economista-chefe
do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, o movimento deve prosseguir até
a recuperação da economia
europeia. "Em algum momento, essas empresas terão
de voltar a ampliar os negócios aqui, mas é preciso que a
situação melhore lá fora."
A saída recorde preocupa
ainda por refletir queda de
40% no saldo comercial e aumento de 100% de viagens.
Outro problema é o financiamento desse deficit, que
precisa ser coberto pelos investimentos estrangeiros.
O investimento direto em
empresas atingiu o pior resultado para meses de junho
em sete anos. No semestre,
foram US$ 12 bilhões, menos
de um terço da meta do BC
para 2010 (US$ 38 bilhões).
Houve ainda saída de investimento pelo pagamento
de empréstimos a matrizes.
O valor não cobre o deficit
semestral de US$ 24 bilhões
nas transações correntes,
que triplicou em relação a
2009. Isso torna o país mais
dependente dos investimentos em ações e títulos públicos, que chegaram a US$ 19
bilhões no semestre.
A previsão do BC é fechar
2010 com resultado negativo
recorde de US$ 49 bilhões.
Para julho, a instituição
espera deficit de US$ 3,7 bilhões, o que faria o resultado
em sete meses superar 2009
inteiro. Já o saldo acumulado
em 12 meses equivale a 2,1%
do PIB -o pior valor nos oito
anos de governo Lula.
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