São Paulo, terça-feira, 27 de julho de 2010

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Transação com exterior tem deficit recorde

Saldo negativo vai a US$ 5,2 bilhões em junho com remessas de empresas de países mais afetados pela crise

Gasto de brasileiros em viagens para fora dobra; resultado assusta BC, e acumulado em 12 meses é o pior no governo Lula


EDUARDO CUCOLO
DE BRASÍLIA

O aumento das remessas de lucros e dividendos em junho surpreendeu o Banco Central e levou o Brasil a registrar o pior resultado nas contas externas para o mês e para o semestre desde 1947.
A deterioração no comércio exterior e o aumento das viagens de brasileiros para fora também pesaram.
As transações correntes do país com o exterior tiveram um deficit de US$ 5,2 bilhões no mês passado, quase o dobro do previsto pelo BC.
O número leva em conta os gastos e as receitas das contas do comércio e dos serviços mais as transferências unilaterais de recursos entre um país e os demais.
No saldo de junho, quase 80% do valor se refere a remessas de lucros de empresas ou de investimentos no mercado financeiro.
Esse movimento pode ser explicado pelo bom desempenho da economia brasileira em relação a outros países. Como lucraram mais aqui, as empresas enviaram mais recursos para ajudar as matrizes, em países mais afetados pela crise econômica global -sobretudo na Europa.
As que mais enviaram recursos foram as de veículos, química e energia.
Parte das remessas reflete também o retorno de investimentos recentes.

MOVIMENTO CONTINUA
Para o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, o movimento deve prosseguir até a recuperação da economia europeia. "Em algum momento, essas empresas terão de voltar a ampliar os negócios aqui, mas é preciso que a situação melhore lá fora."
A saída recorde preocupa ainda por refletir queda de 40% no saldo comercial e aumento de 100% de viagens.
Outro problema é o financiamento desse deficit, que precisa ser coberto pelos investimentos estrangeiros.
O investimento direto em empresas atingiu o pior resultado para meses de junho em sete anos. No semestre, foram US$ 12 bilhões, menos de um terço da meta do BC para 2010 (US$ 38 bilhões).
Houve ainda saída de investimento pelo pagamento de empréstimos a matrizes.
O valor não cobre o deficit semestral de US$ 24 bilhões nas transações correntes, que triplicou em relação a 2009. Isso torna o país mais dependente dos investimentos em ações e títulos públicos, que chegaram a US$ 19 bilhões no semestre.
A previsão do BC é fechar 2010 com resultado negativo recorde de US$ 49 bilhões.
Para julho, a instituição espera deficit de US$ 3,7 bilhões, o que faria o resultado em sete meses superar 2009 inteiro. Já o saldo acumulado em 12 meses equivale a 2,1% do PIB -o pior valor nos oito anos de governo Lula.


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