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ANÁLISE
Piora nas contas externas expõe necessidade de rever regulação
ANDRÉ SACCONATO
ESPECIAL PARA A FOLHA
As contas externas brasileiras apresentaram em junho deficit em transações
correntes de US$ 5,2 bilhões.
O resultado foi composto por
um saldo positivo mais modesto na balança comercial,
US$ 2,3 bilhões, e uma surpreendente remessa de lucros, US$ 4,2 bilhões, a maior
desde março de 2008.
A entrada de investimento
estrangeiro direto (IED) foi de
US$ 708 milhões, exatamente a metade do valor de junho
de 2009, e surpreendeu negativamente.
Os números no primeiro
semestre de 2010 são muito
próximos aos do mesmo período do ano passado -US$
12,1 bilhões ante US$ 12,6 bilhões de 2009. É um sinal negativo, já que a comparação
dá-se com um período muito
afetado pela crise.
Para ter uma ideia, no primeiro semestre de 2008 o IED
foi de US$ 16,7 bilhões.
Essa conta deve voltar a
apresentar melhores resultados no segundo semestre,
dadas as condições positivas
da economia brasileira e a
demora do investimento estrangeiro direto em reagir às
melhorias nos indicadores
econômicos.
BALANÇO POSITIVO
Apesar da piora nas transações correntes, o balanço
de pagamentos continua positivo, com entrada líquida
de US$ 2,4 bilhões no mês, fechando o semestre em US$
16,7 bilhões.
Esse resultado é mais forte
que a entrada pelo movimento cambial, o que reforça a
ideia de que exportadores retêm parte de suas receitas no
exterior. Além disso, outros
financiamentos que não os
com contratos cambais estão
mais atraentes aos olhos das
empresas exportadoras.
Embora o balanço de pagamentos continue positivo,
porém, é inegável que a qualidade do financiamento do
deficit em transações correntes vem se deteriorando continuamente.
A piora na poupança do
governo, somada à manutenção dos incentivos dos bancos públicos, vem acentuando a necessidade de poupança externa. E o financiamento por meio de investimento
externo direto parece ter perdido fôlego.
O descuido com o marco
regulatório do atual governo
reduz os incentivos à entrada
de investimentos externos na
economia brasileira. Setores
como o aeroportuário e o de
portos precisam ter seus marcos revistos.
Sem essa revisão haverá
risco de atravancar investimentos no país.
ANDRÉ SACCONATO é doutor em teoria
econômica pelo IPE-USP e coordenador de
projetos macroeconômicos da Tendências
Consultoria Integrada.
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