São Paulo, terça-feira, 27 de julho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE

Piora nas contas externas expõe necessidade de rever regulação

ANDRÉ SACCONATO
ESPECIAL PARA A FOLHA

As contas externas brasileiras apresentaram em junho deficit em transações correntes de US$ 5,2 bilhões. O resultado foi composto por um saldo positivo mais modesto na balança comercial, US$ 2,3 bilhões, e uma surpreendente remessa de lucros, US$ 4,2 bilhões, a maior desde março de 2008.
A entrada de investimento estrangeiro direto (IED) foi de US$ 708 milhões, exatamente a metade do valor de junho de 2009, e surpreendeu negativamente.
Os números no primeiro semestre de 2010 são muito próximos aos do mesmo período do ano passado -US$ 12,1 bilhões ante US$ 12,6 bilhões de 2009. É um sinal negativo, já que a comparação dá-se com um período muito afetado pela crise. Para ter uma ideia, no primeiro semestre de 2008 o IED foi de US$ 16,7 bilhões.
Essa conta deve voltar a apresentar melhores resultados no segundo semestre, dadas as condições positivas da economia brasileira e a demora do investimento estrangeiro direto em reagir às melhorias nos indicadores econômicos.
BALANÇO POSITIVO
Apesar da piora nas transações correntes, o balanço de pagamentos continua positivo, com entrada líquida de US$ 2,4 bilhões no mês, fechando o semestre em US$ 16,7 bilhões.
Esse resultado é mais forte que a entrada pelo movimento cambial, o que reforça a ideia de que exportadores retêm parte de suas receitas no exterior. Além disso, outros financiamentos que não os com contratos cambais estão mais atraentes aos olhos das empresas exportadoras. Embora o balanço de pagamentos continue positivo, porém, é inegável que a qualidade do financiamento do deficit em transações correntes vem se deteriorando continuamente.
A piora na poupança do governo, somada à manutenção dos incentivos dos bancos públicos, vem acentuando a necessidade de poupança externa. E o financiamento por meio de investimento externo direto parece ter perdido fôlego.
O descuido com o marco regulatório do atual governo reduz os incentivos à entrada de investimentos externos na economia brasileira. Setores como o aeroportuário e o de portos precisam ter seus marcos revistos.
Sem essa revisão haverá risco de atravancar investimentos no país.
ANDRÉ SACCONATO é doutor em teoria econômica pelo IPE-USP e coordenador de projetos macroeconômicos da Tendências Consultoria Integrada.



Texto Anterior: Brasileiro gasta US$ 7 bi no exterior no 1º semestre
Próximo Texto: Lula articula acordo Oi-Portugal Telecom
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.