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ANÁLISE AGRICULTURA
China deve mudar seu perfil para importadora de milho
LEONARDO SOLOGUREN
ESPECIAL PARA A FOLHA
Com o retorno do crescimento aguardado para 2010,
o consumo mundial de milho
destinado à produção de ração animal voltará a crescer.
Estimativas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla
em inglês) indicam que o
montante a ser consumido
no ano agrícola 2010/11 (período compreendido pela
plantação, colheita e comercialização da safra agrícola)
para esse fim será de 492,9
milhões de toneladas.
Isso representa um crescimento de 6,4 milhões de toneladas em relação ao ano
agrícola 2009/10.
Já o milho destinado ao
consumo de ASI (sigla para
alimentos, sementes e industrial) deverá registrar um
crescimento de 10 milhões de
toneladas no período.
Essa expansão do consumo mundial de milho está resultando na queda da relação estoque/consumo (índice que mede o percentual da
demanda que pode ser suprida pelo nível de estoque de
passagem). Estima-se que o
índice, no ano agrícola
2010/11, será de 17%, ante
uma média histórica de 24%.
A queda do índice da relação estoque/consumo é um
dos fatores que justificam a
permanência dos preços do
milho negociados na Bolsa
de Chicago acima de sua média histórica.
A destinação de milho para ração animal, aliada ao
crescimento da produção de
etanol à base do cereal (principalmente nos Estados Unidos), está levando o mundo a
um cenário de decréscimo
dos estoques.
A preocupação se torna
mais acentuada com a mudança de perfil da China, que
deverá se transformar em importadora líquida de milho
em futuro muito próximo.
Nos últimos dez anos, a
demanda doméstica de milho da China registrou um
crescimento de 35 milhões de
toneladas.
Apesar de a produção ter
acompanhado o ritmo de
crescimento do consumo,
não houve sobra significativa de estoque que pudesse
justificar uma política de expansão das exportações.
O primeiro sinal de oferta
apertada foi observado no
ano safra 2009/10, quando a
China teve quebra de produção, obrigando o país a importar 1 milhão de toneladas.
O forte crescimento no
consumo de proteína animal
projetado para a China obrigará o país a elevar a sua
oferta de milho.
Como há restrição para
crescimento significativo de
área plantada, há apenas
duas soluções: ou o milho irá
avançar sobre áreas de outras culturas ou a China será
obrigada a elevar de forma
expressiva suas importações
no longo prazo.
Projeções do USDA indicam que a China importará
cerca de 4 milhões de toneladas de milho em dez anos, alterando completamente o
seu perfil no comércio internacional. Para efeito de memória, o país chegou a exportar 15,2 milhões de toneladas
no ano agrícola 2002/03.
Sem dúvida nenhuma, as
oportunidades no mercado
internacional do milho serão
excelentes para os países exportadores.
Se efetivamente o Brasil
quiser participar dessa oportunidade, os investimentos
em logística serão peças fundamentais para que o país
possa abocanhar uma parcela desse mercado que está em
pleno crescimento.
LEONARDO SOLOGUREN é engenheiro
agrônomo, mestre em economia e
consultor em agronegócio.
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