São Paulo, terça-feira, 27 de julho de 2010

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sociais & cia

Produto sustentável ainda gera confusão

Oferta crescente de bens ecologicamente corretos esconde "lavagem verde", na qual sustentabilidade é mero marketing

Saída para "consumo consciente" é pesquisar a atuação das empresas e a atribuição de selos, afirma especialista


ANDRÉ PALHANO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O consumidor brasileiro ainda enfrenta dificuldades na hora de optar por produto sustentável em seu dia a dia.
Não pela falta de produtos com essas características (leia abaixo). Ao contrário: uma das maiores dificuldades hoje é conseguir diferenciar quem é realmente sustentável de quem só usa esse argumento para vender mais, no "greenwashing" (lavagem verde, em inglês).
Recentemente, a Market Analysis divulgou resultado de pesquisa que incluiu a visita a 15 lojas (supermercados, farmácias, livrarias etc.) em busca de rótulos com apelo socioambiental. Foram encontrados 501 produtos de diferentes categorias, que, juntos, somam 887 apelos. Cosméticos e produtos de higiene pessoal lideram a lista.
Num supermercado de pequeno porte em São Paulo, a reportagem encontrou mais de 40 produtos com algum apelo semelhante. De shopping centers a lojas de material de construção, é impossível não se deparar com termos "eco" ou "planeta" associados a produtos e serviços.
Já que grande parte das marcas e produtos passaram a se autoafirmar "sustentáveis", como diferenciar quem é quem?
"Na ausência de selos mais genéricos que garantam que não somente os produtos mas também as empresas se preocupam com esse tema, a única resposta possível é: pesquisando", aponta Hélio Mattar, do Instituto Akatu.

DIFICULDADES VERDES
Não é uma tarefa fácil. Ao procurar informações nos sites das empresas, por exemplo, o consumidor muitas vezes terá a sensação de que aquela página pertence a uma organização socioambiental, tamanha a quantidade de dados que trazem preocupação com o planeta.
Para piorar, os relatórios de sustentabilidade divulgados pelas companhias raramente destacam aspectos negativos de seu impacto socioambiental, como problemas trabalhistas sérios ou vazamentos de resíduos.
Mas nem tudo está perdido. As redes sociais na internet, por exemplo, são consideradas uma verdadeira revolução para o consumidor em busca de informações.
Como afirma um dos autores do livro "A Empresa Transparente", Dan Tapscott, "pessoas e instituições que interagem com as empresas estão ganhando um acesso sem precedentes a todo o tipo de informação sobre o comportamento, as operações e o desempenho corporativos".
Os selos e certificações também são uma orientação importante. Sobretudo se concedidos por terceiros.
"O consumidor tem dificuldades em diferenciar a autodeclaração da empresa dos selos concedidos por uma terceira parte. É importante que ele também pesquise sobre selos", diz Luís Fernando Guedes Pinto, do Imaflora, uma das certificadoras do selo FSC (Conselho de Manejo Florestal).

IDONEIDADE
Publicações com rankings e guias de sustentabilidade igualmente ajudam, desde que a idoneidade do veículo seja previamente analisada. Há também rankings promovidos por organizações ambientalistas independentes, caso do Guia de Eletrônicos Verdes, do Greenpeace.
Ainda que de maneira incipiente, grandes varejistas começam a destacar produtos com atributos de sustentabilidade. E há um esforço grande para que eles tenham preço próximo aos similares sem essa preocupação.
Isso tudo garante somente escolhas sustentáveis? "Com a quantidade de "greenwashing" existente e as dificuldades de seleção apresentadas, não há garantias de que todas as opções na hora da compra serão sustentáveis", conclui Mattar, do Akatu.
Ao selecionar produtos com essas características, no entanto, o consumidor estará exercendo o seu maior poder: influenciar empresas e produtos nessa direção.


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