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ANÁLISE
Como combater especulação nos emergentes
Países em desenvolvimento considerados seguros pelo mercado veem tsunami de investimentos de capital
QUESTÃO MAIS CRÍTICA DA POLÍTICA ECONÔMICA É COMO RESPONDER A INFLUXOS QUE RESULTARÃO EM ALTA NO CÂMBIO E AMEAÇA ÀS EXPORTAÇÕES
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NOURIEL ROUBINI
ESPECIAL PARA O
PROJECT SYNDICATE,
EM NOVA YORK
Os fluxos de capital para a
economias de mercado emergente estão no carrossel da
expansão e contração já há
décadas. Nos 12 últimos meses, o mundo viu nova expansão, com um tsunami invadindo os países vistos como dotados de fundamentos
macroeconômicos fortes.
A questão mais crítica é como responder a influxos que
resultarão em alta no câmbio
e ameaça às exportações.
A primeira opção é permitir que a moeda se valorize.
Essa poderia ser a resposta
correta caso a pressão de alta
sobre a taxa de câmbio seja
propelida por fundamentos
(superavit em conta-corrente, moeda subvalorizada e
persistente no crescimento).
Mas, em muitos casos, os
influxos são propelidos por
fatores de curto prazo, modas e exuberância irracional,
o que leva a uma moeda supervalorizada e, no futuro,
ao deficit em conta corrente.
A segunda opção é intervenção cambial sem esterilização [ou seja, com geração
de moeda]. O método é efetivo para conter a taxa de câmbio, mas alimenta o monstro:
exacerba o superaquecimento em mercados que já estão
crescendo rápido, causando
inflação e crescimento excessivo no créditos.
A terceira opção é a intervenção esterilizada [sem geração de moeda]. Ela previne
crescimento monetário e de
crédito, mas, ao manter elevados os diferenciais de taxas de juros, alimenta os influxos do "carry trade" [envolvem pegar financiamentos na moeda de países com
juros muito baixos e fazer
aplicações nas moedas de
nações com juros elevados].
A quarta opção é a imposição de controles de capital.
Mas os indícios sugerem que
os controles sobre influxos
de "hot money" [capital especulativo de curto prazo]
não afetam o montante geral
dos influxos de capital.
A quinta opção é adotar
política fiscal mais severa e
reduzir deficit orçamentários, com o objetivo de reduzir os juros que atraem influxos. Mas uma política fiscal
mais sólida pode resultar até
em influxos mais elevados,
com a melhora no balanço
externo e nas perspectivas de
risco soberano do país.
Uma sexta opção é reduzir
o risco de crédito e de bolhas
impondo fiscalização ao sistema. Mas controles diretos
sobre o crescimento do crédito, embora necessários, são
muitas vezes porosos e difíceis de impor na prática.
ATIVOS NO EXTERIOR
A opção final é intervenção permanente e em larga
escala, o que seria equivalente ao uso de fundos soberanos de investimento ou outros mecanismos a fim de
acumular ativos no exterior e
compensar os efeitos que influxos de longo prazo acarretam para a moeda nacional.
Os argumentos em defesa
dessa opção incluem o de
que fatores seculares de longo prazo são importantes
propulsores de influxos de
capital, quando os investidores das economias avançadas descobrem que ativos de
mercados emergentes estão
sub-representados em suas
carteiras, e por isso reduzem
a "parcialidade doméstica"
de seus investimentos.
A intervenção esterilizada
em geral não funciona: caso
os ativos nas economias
avançadas e nos países emergentes sejam perfeitamente
intercambiáveis, os influxos
persistirão enquanto persistirem os diferenciais nos juro
de longo prazo.
Mas a demanda por ativos
de mercados emergentes não
é nem infinita nem perfeitamente intercambiável com
relação aos ativos das economias avançadas, mesmo para dados diferenciais de taxas de juros -porque esses
ativos apresentam liquidez e
riscos de crédito diferentes.
Isso significa que, em dado momento, a intervenção
cambial esterilizada e persistente em larga escala, ou seja, em montante equivalente
a alguns pontos percentuais
do Produto Interno Bruto, satisfará a demanda adicional
por ativos de mercados emergentes e deterá os influxos,
mesmo que restem diferenciais nas taxas de juros.
À medida que a esterilização induzir novas emissões
de ativos nacionais, o desejo
de diversificação dos investidores mundiais poderá ser
satisfeito sem que isso cause
apreciação cambial excessiva, e os danos colaterais resultantes, em mercados
emergentes.
É claro que não se deve impedir de vez qualquer valorização cambial. Quando os
fundamentos econômicos
assim justificarem, uma alta
gradual na taxa de câmbio
deve ser permitida. Mas,
quando a valorização de uma
moeda é deflagrada por influxos de capital que representam as preferências de diversificação de ativos dos investidores de economias
avançadas, é possível e necessário resistir a ela.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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