São Paulo, segunda-feira, 28 de junho de 2010

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ANÁLISE

G20 troca ênfase na recuperação por preparação para uma era de austeridade

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

O G20 trocou a ênfase na recuperação da economia -ponto forte dos comunicados finais das três cúpulas anteriores- pela preparação de uma era de austeridade.
É evidente que o comunicado de Toronto não é explícito nesse sentido.
Ao contrário: trata-se, como sempre acontece em reuniões de cúpula em que o texto final precisa ter consenso, de um delicado equilíbrio entre "a necessidade de atacar a carga de dívida de várias das grandes economias, sem sufocar a recuperação global", conforme o premiê anfitrião, o canadense Stephen Harper, deixou claro.
Mas a ênfase na austeridade, o que significa redução do deficit público e da dívida dos grandes países, fica clara quando se compara o percurso entre a primeira cúpula (Washington, novembro de 2008) e a segunda (Londres, abril de 2009) com o caminho a ser seguido agora, de Toronto até a cúpula na Coreia do Sul, em novembro.
Todo o movimento inicial do G20 foi na direção de montar e/ou adotar pacotes de estímulo. Tanto que, em Londres, puderam anunciar megaplano de US$ 1,1 trilhão (quase um Brasil) para estimular economias então anêmicas, quase comatosas.
Agora, ao contrário, de Toronto até Seul, a busca será pelo que o jargão chama de "consolidação fiscal".
Mas, atenção, ao contrário dos movimentos anteriores, agora cada país fará o ajuste do jeito e do tamanho que puder, quiser e necessitar.

"TIMING"
Não que haja divergência conceitual. Todos os integrantes do G20 são a favor da plena recuperação da economia e também do equilíbrio fiscal e da redução da dívida.
O problema, portanto, é de "timing": os países europeus nem esperaram a cúpula para começar o ajuste, ao passo que os EUA, com apoio firme do anfitrião Canadá e do Brasil, achavam que os ajustes só deveriam ser iniciados depois que a reativação econômica estivesse assegurada.
O documento joga para a cúpula seguinte precisões sobre planos e prazos, o que satisfaz a todos. Mas a austeridade subiu ao topo das prioridades, ainda que o texto equipare fortalecer a recuperação a equilibrar contas.
"Fortalecer a recuperação é chave. [...] Ao mesmo tempo, eventos recentes [a crise europeia] realçam a importância de finanças públicas sustentáveis." Até agora, o saneamento das contas públicas vinha depois, nunca "ao mesmo tempo" que o estímulo à recuperação.


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