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ANÁLISE
G20 troca ênfase na recuperação por preparação para uma era de austeridade
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
O G20 trocou a ênfase na
recuperação da economia
-ponto forte dos comunicados finais das três cúpulas
anteriores- pela preparação
de uma era de austeridade.
É evidente que o comunicado de Toronto não é explícito nesse sentido.
Ao contrário: trata-se, como sempre acontece em reuniões de cúpula em que o texto final precisa ter consenso,
de um delicado equilíbrio entre "a necessidade de atacar
a carga de dívida de várias
das grandes economias, sem
sufocar a recuperação global", conforme o premiê anfitrião, o canadense Stephen
Harper, deixou claro.
Mas a ênfase na austeridade, o que significa redução
do deficit público e da dívida
dos grandes países, fica clara
quando se compara o percurso entre a primeira cúpula
(Washington, novembro de
2008) e a segunda (Londres,
abril de 2009) com o caminho a ser seguido agora, de
Toronto até a cúpula na Coreia do Sul, em novembro.
Todo o movimento inicial
do G20 foi na direção de montar e/ou adotar pacotes de estímulo. Tanto que, em Londres, puderam anunciar megaplano de US$ 1,1 trilhão
(quase um Brasil) para estimular economias então anêmicas, quase comatosas.
Agora, ao contrário, de Toronto até Seul, a busca será
pelo que o jargão chama de
"consolidação fiscal".
Mas, atenção, ao contrário
dos movimentos anteriores,
agora cada país fará o ajuste
do jeito e do tamanho que
puder, quiser e necessitar.
"TIMING"
Não que haja divergência
conceitual. Todos os integrantes do G20 são a favor da
plena recuperação da economia e também do equilíbrio
fiscal e da redução da dívida.
O problema, portanto, é de
"timing": os países europeus
nem esperaram a cúpula para começar o ajuste, ao passo
que os EUA, com apoio firme
do anfitrião Canadá e do Brasil, achavam que os ajustes
só deveriam ser iniciados depois que a reativação econômica estivesse assegurada.
O documento joga para a
cúpula seguinte precisões
sobre planos e prazos, o que
satisfaz a todos. Mas a austeridade subiu ao topo das
prioridades, ainda que o texto equipare fortalecer a recuperação a equilibrar contas.
"Fortalecer a recuperação
é chave. [...] Ao mesmo tempo, eventos recentes [a crise
europeia] realçam a importância de finanças públicas
sustentáveis." Até agora, o
saneamento das contas públicas vinha depois, nunca
"ao mesmo tempo" que o estímulo à recuperação.
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