São Paulo, sábado, 29 de janeiro de 2011

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ANÁLISE PREÇOS

O G20 e as propostas de regulação de commodities

PAULO PICCHETTI
ESPECIAL PARA A FOLHA

No centro da preocupação com a ameaça da inflação sobre a recuperação da economia mundial está a forte alta de preço das commodities em geral nos últimos meses.
O debate sobre as causas dessa elevação aponta, de um lado, para quedas de produtividade de algumas commodities importantes (como trigo e algodão) em um momento de demanda global crescente e esto- ques reduzidos, colocando os fundamentos de mercado como responsáveis pela elevação dos preços.
De outro lado, existem suspeitas com relação ao papel dos instrumentos financeiros ligados a essas commodities.
Eles possibilitariam um nível crescente de especulação por parte de investidores não ligados diretamente aos seus processos produtivos, o que teria um impacto significativo sobre os preços.

DEBATES
Essa discussão já vem ocorrendo em alguns fóruns, como a Comissão para Transações de Futuros de Commodities (CFTC, na sigla em inglês) dos EUA, sem resultados conclusivos do ponto de vista de política até agora.
Em dezembro último, essa comissão havia postergado a decisão sobre a limitação do número de contratos futuros de 28 commodities.
Essa limitação foi aprovada em uma primeira fase agora em janeiro, mas sua aprovação efetiva ainda depende de uma segunda votação, na qual o resultado não parece minimamente assegurado.
Do ponto de vista prático, a decisão continua adiada e enfrenta forte oposição política.
Do outro lado do oceano, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, que atualmente acumula a presidência do G20, defende a imposição de limites às operações financeiras com commodities, como prioridade de sua agenda no encontro de Davos.
Entretanto, essa posição não é consensual dentro da própria Comunidade Europeia.
O rascunho de um documento disponibilizado nos últimos dias pela Comissão da Comunidade Europeia ("Lidando com os desafios dos mercados de commodities e matérias-primas") argumenta haver "pouca evidência de que o processo de formação de preços nos mercado de commodities mudou nos últimos anos em função da importância crescente dos mercados de derivativos".
O tom final do documento é, na verdade, bem ponderado. Ele cita alguns estudos internacionais recentes sobre o assunto, mas reconhece a dificuldade de estabelecer conclusivamente a evidência sobre o papel da especulação no aumento dos preços das commodities.
O risco é grande para os dois lados: permitir que a especulação impeça a recuperação plena da economia mundial ou impedir o acesso de produtores e agentes de mercado aos benefícios de um mercado financeiro bem estruturado.
Análises adicionais explorando todas as informações quantitativas existentes sobre a relação entre preços de commodities e o papel relativo dos fundamentos de mercado versus movimentos financeiros são muito bem-vindas.


PAULO PICCHETTI , 48, doutor em economia pela Universidade de Illinois, é professor da EESP/FGV (Fundação Getulio Vargas) e coordenador do IPC-S/Ibre/FGV).


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