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ANÁLISE SOJA
Alta do óleo nos EUA pode não afetar consumidor no Brasil
PAULO PICCHETTI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Ao final de abril deste ano,
uma lata de óleo de soja nos
supermercados do Brasil
custava, em média, cerca de
30% menos do que em maio
de 2008.
Durante esse período, o
óleo de soja ensaiou aumento de preço, principalmente
no segundo semestre de
2009. Entretanto, nos quatro
primeiros meses deste ano,
recuou 7,9% em relação ao final de 2009.
Nesses quatro meses, o
preço do óleo de soja na Cbot
(Chicago Board of Trade),
uma das principais referências do mercado mundial de
commodities, subiu 3,5%.
Entre a referência do preço
mundial e o preço na prateleira do supermercado brasileiro está o preço recebido
pelo produtor nacional, medido como um dos componentes do Índice de Preços ao
Produtor Amplo (IPPA) da
Fundação Getulio Vargas.
O Brasil é hoje um dos
principais produtores e exportadores de soja e de óleo
de soja e, portanto, esses preços estão intimamente correlacionados.
Podemos ver, no gráfico
em http://www.folha.com.br/1014812, a evolução dos
preços do óleo de soja (transformados em números-índice para facilitar a comparação entre as diferentes quantidades de medida) na Cbot,
no IPPA e no IPCA (Índice de
Preços ao Consumidor Amplo), mensalmente entre janeiro de 1999 e abril de 2010.
O que podemos notar no
gráfico é o seguinte:
1) a volatilidade dos preços
ao consumidor é menor do
que nos estágios anteriores,
e,
2) as variações de preço na
Cbot são indicadores antecedentes dos movimentos no
IPPA; os preços evoluem
conjuntamente no longo prazo, porém,
3) não têm uma relação
exata no curto prazo,
4) e esses, por sua vez, são
indicadores antecedentes
dos preços ao consumidor final.
Esses fatos podem ser explorados de forma quantitativa em um modelo econométrico.
Primeiramente, a relação
dinâmica entre as variações
dos preços no mercado internacional e nos preços pagos
ao produtor brasileiro (controlando-se para as alterações na taxa de câmbio durante esse período) mostra
que, do total de variações de
preços na Cbot, apenas 66%
em média chegam ao produtor nacional.
Isso não ocorre instantaneamente: no mesmo mês
em que os valores aumentam
na Cbot, temos apenas 11%
do efeito final sobre o preço
do produtor nacional.
Após um mês, esse valor
chega a 51%, passando a
62% depois de dois meses.
O impacto total da variação só é sentido depois de
três meses.
No caso da relação entre o
IPPA e o IPCA, o consumidor
sente em média 87% das variações do preço recebido pelo produtor, mas esse valor
integral também só é percebido depois de três meses.
No mês em que o produtor
percebe o aumento de preço,
o consumidor só sente 18%
dessa variação, passando a
63% depois de um mês, 84%
depois de dois meses e finalmente 87% a partir do quarto
mês.
Como esses resultados
econométricos representam
variações médias, eles pressupõem que um aumento no
preço internacional (ou recebido pelo produtor) seja permanente, o que nem sempre
é o caso: o mercado oscila
continuamente em função de
seus fundamentos (fatores
climáticos e econômicos que
afetam a produção e a demanda, questões especulativas envolvendo a taxa de
câmbio entre países produtores, a formação e utilização
de estoques etc.).
Dessa forma, uma oscilação de curto prazo no mercado mundial pode não ter tempo de chegar aos produtores
e consumidores do Brasil.
Com isso em mente, a dona de casa pode se preocupar
ao ver as elevações do óleo de
soja na Cbot, mas não muito...
PAULO PICCHETTI, 48, doutor em
economia pela Universidade de Illinois, é
professor da EESP/FGV (Fundação Getulio
Vargas) e coordenador do IPC-S/Ibre/FGV).
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