São Paulo, domingo, 29 de agosto de 2010

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VINICIUS TORRES FREIRE

Pavana para uma infanta defunta


Fracasso da oposição também se deve a elitismo e ao descolamento da realidade social e regional


DEFUNTA é a oposição. Uma pavana é também uma descompostura, mas, principalmente, uma dança da Renascença, embora a oposição esteja sendo varrida em ritmo de pancadão. O PSDB dança primeiro, pois é o príncipe da oposição defunta.
O tucanato existia já, "avant la lettre", no governo de Franco Montoro em São Paulo (1983-86). O partido surgiu no final dos anos 1980 como uma dissidência de "poucos e bons" do PMDB.
Saíram porque foram atropelados pelo domínio quercista no Estado (1987-1994). Porque se diziam enojados com a fisiologia, a inépcia e o populismo do governo peemedebista de José Sarney (1985-90), aliás características de muito governador e líder do PMDB eleito graças ao estelionato eleitoral do Plano Cruzado. Esse PMDB mantém-se até hoje forte e sacudido.
Tinham convicções parlamentaristas. Tal crença talvez se devesse em parte à consciência de que o partido teria dificuldades de vencer eleições diretas. Era de fato um partido de quadros políticos e intelectuais da elite mais ilustrada do país, mas sem raiz popular.
Quase deram um "primeiro-ministro" e um gabinete a Fernando Collor. Acabariam por assumir tais funções sob Itamar Franco. Graças à habilidade de Fernando Henrique Cardoso e seu Plano Real, chegaram ao poder. Mas suas conexões sociais jamais foram muito além da universidade, de altos quadros das grandes empresas, de organizações civis de classe média (alta) e empresariais.
O fim do governo FHC marcou a debandada de muitos quadros tucanos, que foram ganhar a vida no mercado. Suas lideranças mais importantes envelheceram, se aposentaram ou morreram. Algumas das restantes se odeiam.
As derrotas de 2002 e 2006 não fizeram o partido mover uma palha a fim de se recompor. "Tucanos de alma", como peemedebistas gaúchos e pernambucanos, não se tornaram PSDB de fato devido a quizilas regionais. O PSDB também não procurou agregar novos nomes "bons" da política dos Estados menos centrais. Seus governos melhores são de gerentes sem ideias ou inspiração. Os demais não diferem do padrão PMDB.
O PSDB perdeu vínculos com a nova universidade. Nada fez para ir ao movimento estudantil. Ignora a organização de base. Quando muito, sua raiz são comitês de prefeitos. Os tucanos não têm nem quiseram ter vínculos com os "movimentos sociais", de resto filiados ao petismo. Têm o vício de identificar "popular" com "populista". Tampouco procuraram congregar outros setores sociais em torno de um programa próprio -agregar militantes em torno de temas como educação ou os impostos, tanto faz. Não o fizeram.
Sendo por vício de origem um "partido de quadros", acabou se tornando um partido elitista sem elite. Vivia de nomes "históricos", hoje apenas nomes de rua. Poderia ao menos ter nomeado um "ministério paralelo", quadros aptos a criticar Lula com base em programas. Mas qual programa?
O PSDB não entendeu o "contrato social" de Lula, que, mal ou bem, mudou o Brasil. Deixou parte do país entregue ao atraso do PMDB, parte à carcomida oligarquia nordestina do DEM. O PSDB descolou-se da realidade social, econômica e regional do país. Padece de inanição política.

vinit@uol.com.br


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