São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2010

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VINICIUS TORRES FREIRE

Furos e vazamentos do petróleo


Após "efeito Serra" sobre juro e "efeito Meirelles" na Petrobras, um rumor sério: vazou informação do pré-sal


FAZ DUAS semanas, as taxas de juros no mercado futuro caíram na praça financeira, na BM&F. É nessa parte da Bolsa que o dinheiro grosso faz suas estimativas práticas de quanto vai custar o crédito daqui a algum tempo, baseado em ampla especulação e "chutes informados" sobre os destinos da taxa de juros do Banco Central, da política de gastos do próximo presidente, do dólar e o diabo. Entre os muitos zum-zum-zuns e chutes diários a respeito dos motivos de altas e baixas de preços e taxas no mercado, alguém apareceu com um tal de "efeito Serra".
A hipótese, vamos chamá-la benevolamente assim, era que a redução da diferença entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) nas pesquisas de voto indicaria uma possibilidade de vitória de um candidato mais inclinado a cortar gastos -Serra. Parecia delírio, até porque Serra tem prometido estourar os gastos da Previdência.
Nem se mencione que o mercado se move ou de modo aleatório ou devido a tantos fatores determinantes que é improvável descobrir um motivo certeiro para um movimento de uns décimos, ainda mais em apenas um dia. De resto, o baixo contínuo de tumulto no mercado financeiro mundial destes tempos e as especulações sobre novas intervenções do governo no mercado de câmbio seriam já combustível bastante para alterações nas taxas de juros. Em suma, indo direto ao ponto, o "efeito Serra" era besteira. Não se sabe apenas se era besteira mais ou menos interessada -política ou financeiramente interessada.
O longo introito vem ao caso porque, nesta semana, a besteira subiu de tom, embora tenha se degradado ainda mais. Trata-se do caso dos corcoveios do preço Petrobras. Os saltos surpreendentes dos preços das ações da empresa foram atribuídos a rumores políticos, à vitória do candidato "n" ou "m", à nomeação de Henrique Meirelles para dirigir a Petrobras e a outras conversas fiadas ainda piores. Depois do fechamento do mercado na quarta-feira, já se ouvia, porém, o boato de que o governo divulgaria em breve a descoberta de um "novo Tupi", um irmão mais gordo do primeiro megacampo do petróleo do pré-sal.
Mesmo esse tipo de boato mais específico e menos irrelevante, ao menos para a especulação de curto prazo, é mais ou menos comum. Desta vez, ou outra vez, porém, talvez não se tratasse de boato, mas de vazamento de informação, como ontem começava a ficar claro.
A Agência Nacional do Petróleo avisou que anunciaria hoje informações a respeito da perfuração exploratória do campo de Libra, embora não tenha confirmado o tamanho da coisa. Ainda no campo da especulação, Libra teria reservas recuperáveis de 8 bilhões a 12 bilhões de barris, mais que os 5 bilhões a 8 bilhões de Tupi. Havia uma estimativa técnica de que Libra poderia ser assim tão grande, ou até maior. Mas nada a respeito dos testes em poços.
Ou seja, os boatos originais sobre a Petrobras seriam besteira de desinformados que não conseguiam explicar a alta da Petrobras ou cortina de fumaça de quem sabia o que fazia. Resta esperar o anúncio oficial do mar de petróleo de Libra. Se foi esse mesmo o caso, estará confirmado mais um furo por onde se despeja informação privilegiada para o mercado, além de mais um motivo para desconfiar do besteirol diário sobre altas e baixas nas finanças.

vinit@uol.com.br


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