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O Brasil que não cresce
País avança ao maior ritmo em mais de duas décadas, mas processo não é homogêneo; levantamento mostra 12 "ilhas de atraso", regiões que ainda não conseguem acompanhar o dinamismo da economia
DENYSE GODOY
ENVIADA ESPECIAL A MATO GROSSO
O crescimento do Brasil no
pós-crise superou todas as
expectativas, e os economistas também são bastante generosos nas suas previsões
para a elevação do PIB (Produto Interno Bruto) neste
ano: 6,5%, 7%, 7,5%.
Atrás desses números robustos, entretanto, esconde-se importante parte do país
que apenas assiste ao espetáculo sem usufruir dos benefícios gerados.
São cerca de 20 milhões de
pessoas -o equivalente a
uma Austrália- vivendo em
12 "ilhas de atraso" espalhadas pelo território nacional.
É o que mostra levantamento feito pela Folha a partir de dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística) e da Secretaria de
Políticas de Desenvolvimento Regional e da avaliação de
especialistas.
Tais regiões não conseguem avançar devido ao isolamento geográfico -causa e
efeito da falta de infraestrutura essencial-, às condições do clima e do solo, às dificuldades de conciliar o progresso com a preservação
ambiental e à organização local da sociedade, em diferentes combinações de fatores
dependendo do caso.
A economia dessas áreas
há anos se encontra estagnada ou cresce abaixo da média
do Estado a que pertence e do
seu potencial, expulsando os
jovens, que vão tentar a sorte
em outra parte.
Algumas vezes, até chegam a produzir muita riqueza, como na zona cerealista
da região Centro-Oeste. Mas,
se os recursos que brotam
não criam empregos nem são
investidos no desenvolvimento local para melhorar a
qualidade de vida da população, não significam um progresso de fato.
1 Noroeste de Mato Grosso procura alternativas à extração de madeira
"Sim, eu sei que quem chega aqui acha que está no fim
do mundo. Mas já foi muito
pior", resigna-se Rosângela
Vidal Andrade, 28, enquanto
recolhe rapidamente algumas peças de roupa do varal.
Em Brasnorte, que fica a
quase 600 quilômetros de
Cuiabá, apenas as poucas
ruas do centro têm asfalto
-as demais são de terra batida, um pesadelo para as donas de casa.
A poeira da estiagem e a lama das épocas de chuva estão longe de ser o pior problema de quem vive na cidade,
no entanto. Ruim mesmo,
por exemplo, é não ter sistema de esgoto, o que obriga as
famílias a abrirem fossas nos
seus quintais.
Rosângela se mudou da
zona rural para a periferia urbana, há duas semanas. Foi
morar em uma casa de madeira que ela e o marido, Marcos Marcelo Schraegale, 30,
construíram com as próprias
mãos, nos finais de semana.
Antes, moravam em uma
fazenda madeireira que virou produtora de soja. Cuidavam, sozinhos, de 500 hectares de plantação.
Os brasnortenses têm investido nas novas culturas de
grãos para substituir a extração de árvores, alicerce da
economia local nas décadas
de 1970 e 1980 e que se esgotou, deixando boa parte dos
15 mil habitantes do município sem ocupação.
Os pequenos fazendeiros
se desfizeram das suas propriedades e agora só os grandes empresários se mantêm
no ramo, brandindo as licenças ambientais antes mesmo
que se pergunte sobre elas.
Nas palavras dos empreendedores, a melhora
apontada por Rosângela se
parece mais com esperança.
De que a recém-pavimentada
estrada que liga Brasnorte ao
restante do Estado traga desenvolvimento.
2
Isolamento deixa o extremo oeste mais vulnerável
A diversidade das tribos
indígenas que sempre habitaram a região dificulta a organização social e econômica no Alto Solimões. A distância das grandes cidades
fez da fronteira do Amazonas
com o Peru e a Colômbia uma
região muito pobre e vulnerável ao contrabando, ao tráfico de drogas, à guerrilha e à
imigração ilegal.
3
No Pará, a economia não vai além da floresta
A região oeste do Pará
sempre viveu de ciclos de exploração da floresta amazônica, sem que uma atividade
conseguisse alavancar a economia. Houve o da borracha,
o da juta, o da extração de
madeira para exportação, o
da pimenta do reino, o do ouro. Acabou atraindo algumas
indústrias, que beneficiam
os produtos tirados da mata.
4
Bico do Papagaio tem pobreza e tensão agrária
Palco de grandes conflitos
pela posse da terra, o Bico do
Papagaio reúne boa parcela
dos municípios mais miseráveis do país. É grande polo de
expulsão de migrantes tanto
para as demais regiões quanto para os países que fazem
fronteira com o Brasil. A origem desse fenômeno está na
sua estrutura política demasiadamente concentrada.
5
"Terra de ninguém" fica na região entre o Ceará e o Piauí
A divisa do Ceará com o
Piauí é uma região disputada
pelos dois Estados. Seus moradores foram completamente abandonados pelo poder
público. Não há atividade
econômica significativa, exceto as voltadas à sobrevivência. As cidades são isoladas, não possuem energia
elétrica, água encanada ou
sistema de esgoto.
6
Seca no agreste nordestino não teve solução
Enquanto o litoral progride, o agreste continua na carestia. O clima seco e a falta
de rios perenes impediram a
instalação de uma agricultura forte. E, assim, a pecuária
extensiva para a produção de
leite se destacou. As plantações se restringiram a pequenas propriedades familiares,
de subsistência. A nova
ameaça é a desertificação.
7
Norte baiano tenta superar barreiras do semiárido
O clima semiárido espantou investimentos públicos e
privados do norte da Bahia.
Só a pecuária de ovinos e caprinos e a mineração vingaram. Juazeiro é a cidade mais
avançada, abrigando, inclusive, um polo industrial. Nas
cercanias do rio São Francisco, desenvolve-se uma fruticultura promissora, que usa
sistemas de irrigação.
8
Entorno de Brasília não estava contido no plano
O elaborado planejamento
da capital do país não contemplou os arredores, que receberam ondas de migrantes
do Nordeste para trabalhar
na construção da cidade e na
prestação de serviços. Os
municípios da área buscam
descobrir novas vocações:
Luziânia investe na plantação de morangos e Valparaíso de Goiás, na movelaria.
9
Minas Gerais tem vasta área que parou no tempo
O Centro-Norte de Minas
Gerais sofreu com um relativo isolamento em várias épocas. Nem a mineração, nem a
pecuária bovina nem a agricultura conseguiram gerar
empregos permanentes de
forma a promover o dinamismo econômico. A organização da sociedade, baseada
em relações de compadrio, por décadas barrou avanços.
10
Oeste de Mato Grosso do Sul quer atrair indústrias
O solo, repleto de rochas
como mármore, granito e calcário, não é propício à atividade agrícola, por isso essa
parte do Estado não experimentou o "boom" dos grãos
vivido pelo restante do Centro-Oeste. Agora, esforça-se
para atrair indústrias para o
beneficiamento desses produtos, tentando deixar de ser
uma área só extrativista.
11
Vale do Ribeira procura avançar sem desmatar
Vizinho à região mais
próspera do país, acabou deixado de lado, enquanto o interior paulista, de acesso fácil devido à construção de
ferrovias, desabrochava com
o café. Por isso, a mata local
foi preservada. Hoje, enfrenta o dilema de avançar sem
degradar o ambiente. Desafio é explorar melhor o turismo ecológico.
12
População encolhe no oeste do Rio Grande do Sul
Primeiro, a economia era
baseada na pecuária de ovinos e bovinos. Depois, começou a cultura do arroz. A pouca diversificação da atividade e o modelo de produção
baseado em latifúndios levaram à estagnação. Atualmente, algumas cidades, como
Santana do Livramento, estão vendo a sua população
diminuir fortemente.
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