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ANÁLISE
Empresa brasileira vive sob o império de controles cruzados
J. GERALDO PIQUET CARNEIRO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Luigi Einaudi, presidente
da Itália nos anos 1950, dizia
que o verdadeiro milagre italiano era o fato de que o país
se desenvolvia apesar das dificuldades que o governo
criava para impedir que isso
acontecesse.
Einaudi estava se referindo à proverbial burocratização italiana. Algo parecido se
pode dizer do Brasil dos dias
atuais. Em plena crise mundial, o Brasil cresce e se oferece como porto seguro para
investimentos nacionais e estrangeiros.
Os sinais do desenvolvimento são visíveis nas plataformas de petróleo que
aguardam reboque na baía
da Guanabara, em aviões lotados e na ascensão social de
30 milhões de pessoas.
Paradoxalmente, o Brasil
continua uma ilha de empreendedorismo cercada de
exigências governamentais
por todos os lados.
Amargamos o 129º lugar
entre 183 países no índice de
facilidade (ou dificuldade)
para fazer negócio, segundo
o Banco Mundial.
Isso decorre, como se sabe, do excesso de burocracia
para criar empresa, cadastrá-la junto a uma pluralidade de
órgãos federais, estaduais e
municipais, pagar impostos,
obter crédito público, tirar alvará de funcionamento,
cumprir a legislação ambiental e assim por diante.
Os que acreditam no determinismo histórico da burocracia afirmam se tratar de
um viés cultural insuperável.
Sem dúvida, é uma saída
confortável entregar os pontos e considerar que a burocratização faz parte da "tradição cultural", como a farra
do boi, o linchamento e outras patologias sociais.
Afinal, esses encargos burocráticos podem ser agora
tirados de letra pela informatização crescente -temos
talvez um dos mais sofisticados programas de declaração
on-line de renda do mundo e
certidões negativas podem
ser requeridas pela internet.
Nada disso.
O que temos hoje é um país
(empresas e cidadãos) manietado por controles "cruzados" de várias espécies.
Criar empresa, contrair
empréstimo, exportar, participar de concorrência são
atos que não têm, em si mesmos, interesse fiscal. E são
esses controles que tudo retardam. Que tal revogá-los?
JOÃO GERALDO PIQUET CARNEIRO é
advogado e presidente do Instituto Helio
Beltrão. Foi secretário-executivo e
coordenador do Programa Nacional de
Desburocratização.
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