São Paulo, quarta-feira, 30 de junho de 2010

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VINICIUS TORRES FREIRE

Dilma, impostos, postes e balões


Baixar imposto torna-se, por ora, mote principal da candidata, que fica cada vez menos opinionada


ATÉ AGORA, a promessa mais recorrente da campanha de Dilma Rousseff (PT) é cobrar menos impostos. A candidata repetiu na segunda-feira no programa "Roda Viva", da TV Cultura, que vai propor uma "reforma tributária ampla". Isso quer dizer imposto zero sobre investimentos produtivos, diminuir os impostos que as empresas pagam sobre a folha de salários e fazer com que os Estados concordem em cobrar um ICMS parecido.
No final de maio, Dilma havia dito coisa parecida aos empresários da Confederação Nacional da Indústria -a "reforma das reformas" é a tributária. Dias antes, no "Programa do Ratinho", comprometera-se a simplificar a cobrança de tributos e cobrar menos imposto de energia elétrica, remédio e comida. Também tratou dos impostos sobre empregos e investimentos.
Imposto não é um tema que apareça espontaneamente nas pesquisas de opinião. Ao menos, não tem aparecido nas rodadas de pesquisas desta eleição. Mas se torna um assunto de grande interesse quando se estimula o entrevistado a falar sobre o assunto. É o que dizem pesquisas encomendadas direta ou indiretamente por PT, PSDB e DEM.
Um achado interessante de pelo menos duas dessas pesquisas é que o eleitorado estaria mais incomodado com impostos do que com juros altos. Ou que considera a redução de impostos "muito importante" para a diminuição do custo dos produtos e serviços que consome.
Dilma, portanto, sabe do que está falando. Sabe ainda do que não está falando. Além de evitar debates e sabatinas potencialmente incômodos, a candidata governista evita qualquer outro tema polêmico: previdência, reforma trabalhista, Banco Central etc. Muito disciplinada, evita bolas divididas. Mudou de fato seu jeito de jogar, seu tradicional estilo Dunga. Mas obedece estritamente ao esquema tático da campanha, como os "guerreiros" de Dunga. Parece, pois, tão sem personalidade quanto o futebol desta Copa.
Além de ser a candidata governista, "a mulher do Lula", como tanto aparece nas pesquisas, Dilma é então a candidata da redução dos impostos. Note-se de modo irônico que o candidato a tantos e vários cargos que mais frequentemente se apresentou aos eleitores com um programa de redução de impostos foi Guilherme Afif Domingos, ex-PDS, PFL, agora no DEM, aliado dos tucanos.
Um eventual governo Dilma abriria mão de muita receita de imposto, pois. Como já se escreveu nestas colunas, reformas tributárias no Brasil progredirão apenas se o governo federal absorver as perdas de receita. Estados e municípios jamais se entendem sobre o assunto; o governo federal teria de abrir mão de mais receita. Para fazê-lo, o governo precisa gastar menos.
Dilma ainda não explicou como vai enxugar o gelo. Por ora, no entanto, o mais relevante é que a candidata aborda apenas assuntos de baixo risco ou de consenso, ainda que superficial (quase todo mundo quer menos imposto, mas há desacordo quase geral sobre como e quando fazê-lo). Quase deixa de lado até as tradicionais inanidades sobre saúde e educação, telhados de vidro do governo Lula.
Dilma diz que não é um poste a ser eleito por Lula. Pode ser. Mas, antes uma mulher opinionada, parece cada vez mais um balão vazio inflado pelo presidente.

vinit@uol.com.br


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