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commodities
Eucalipto pode virar carvão para aço
Insumo para a siderurgia é dominado pelo carvão mineral, que é importado, não renovável e mais caro que o vegetal
Empresa ArcelorMittal desenvolve clone de eucalipto capaz de suportar a pressão em grandes altos-fornos
AGNALDO BRITO
ENVIADO ESPECIAL A MARTINHO CAMPOS (MG)
A ArcelorMittal Bioenergia, empresa controlada pela
ArcelorMittal (maior companhia siderúrgica mundial),
está a um passo de alcançar
uma variedade de eucalipto
capaz de ser a primeira opção
renovável de carvão para uso
na fabricação de aço.
Hoje, grande parte da produção de aço é dependente
do carvão mineral, insumo
não renovável do qual o Brasil é grande importador.
O carvão é insumo essencial na produção do aço. No
alto-forno, exerce duas funções: eleva a temperatura do
forno a 1.500 graus Celsius e
desencadeia uma reação química. O carbono existente no
carvão mineral ou vegetal se
associa ao oxigênio liberado
do minério de ferro em altas
temperaturas.
A redução, como é chamado esse processo, purifica o
ferro. O uso do carvão vegetal
(portanto, renovável) no processo reduz o balanço negativo de emissões do setor siderúrgico, diminui a dependência de importações e representa queda no custo da
tonelada do insumo.
A tonelada do carvão vegetal é US$ 90 mais barata que
a do coque (carvão mineral).
Mas, para ter esses benefícios, o setor tinha de vencer
uma limitação técnica. E é isso que a pesquisa realizada
pela ArcelorMittal está perto
de conseguir.
A novidade está no desenvolvimento de uma madeira
muito dura, resistente a ponto de, após ser transformada
em carvão, suportar o peso
da mistura colocada num alto-forno. Essa coluna de "ingredientes" despejados no
alto-forno exerce uma pressão sobre o carvão.
Somente o carvão mineral
suporta essa pressão.
"O carvão vegetal não suporta esse peso, por isso só é
usado para a produção do
ferro-gusa, produzido em
fornos menores. Se for usado
nos grandes altos-fornos, o
carvão vegetal é esmagado, o
que pode vedar o forno. Isso
não pode acontecer", afirma
Wanderley Cunha, gerente
de desenvolvimento técnico
da companhia.
A nova variedade pode
romper essa limitação.
O clone de eucalipto obtido a partir do cruzamento de
três variedades chega perto
da resistência obtida com o
carvão mineral. Testes feitos
com o carvão dessa árvore
mostraram resistência a
pressões de até 220 quilos
por centímetro quadrado.
O mesmo teste feito com o
coque mostrou resistência de
até 250 quilos por centímetro
quadrado. "Se obtivermos
uma variedade que alcance
essa resistência, teremos então um redutor renovável",
diz Cunha. A ArcelorMittal já
produz 2,3 milhões de toneladas de carvão vegetal e vai
duplicar essa produção.
TRANSGENIA
Selos de manejo florestal
vedam o uso de clones transgênicos em áreas certificadas, mas a ArcelorMittal avalia que não pode ignorar a
tecnologia de transferência
de genes na busca de variedades adequadas para a siderurgia.
Segundo Roosevelt Almado, gerente de pesquisa da
ArcelorMittal, a empresa estuda a opção de desenvolver
pesquisas para obtenção de
clones transgênicos. "Isso
poderia, por exemplo, reduzir o tempo para obtenção de
um desses clones que oferecem madeira mais dura."
Hoje, todo o desenvolvimento de clones para uso comercial utiliza técnicas clássicas de melhoramento, muito mais lenta para a obtenção
de variedades novas.
O jornalista AGNALDO BRITO viajou a
convite da ArcelorMittal Bioenergia
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