São Paulo, quinta-feira, 30 de setembro de 2010

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ANÁLISE SUINOCULTURA

Consumo de carne suína no Brasil ainda é muito pequeno

JOSÉ VICENTE FERRAZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

O consumo per capita brasileiro de carne suína, calculado a partir do consumo total aparente, situa-se próximo de 14 quilos por habitante por ano.
Trata-se de um consumo muito modesto quando comparado aos mais de 40 quilos consumidos na União Europeia e ao pouco menos do que isso na China.
O baixo consumo do país é atribuído, em grande parte, ao fato de praticamente não se consumir carne suína "in natura" no Brasil (exceto como pertences de feijoada).
O consumo no país está muito concentrado na forma de produtos industrializados (salames, presuntos, linguiças etc.) que, de modo geral, são considerados caros e, portanto, inibem um maior consumo.
Várias entidades têm tentado, nos últimos anos, estimular o consumo de carne suína no Brasil. No entanto, os resultados não têm sido muito animadores.
Segundo a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2008/09, as famílias brasileiras gastam com carne suína "in natura", em média, menos de 1% do total das suas despesas com alimentação no domicílio.
A evolução do consumo per capita brasileiro de carne suína confirma que os avanços nesse sentido são bastante tímidos (cerca de 10% em cinco anos), indicando que, para atingir o consumo da ordem de 20 quilos por habitante ano (ainda relativamente baixo), serão necessários muitos anos.
Talvez seja necessário investigar com maior profundidade os obstáculos a uma maior expansão do consumo de carne suína.

PRECONCEITO
Questões ligadas à "saudabilidade" da carne, praticidade de preparo e culturais diversas podem ter um peso maior do que se imagina.
A questão cultural, por exemplo, fica evidente quando se observa que nas regiões Sul e Sudeste do país -cujas populações têm uma maior influência europeia- os gastos com carne suína são, proporcionalmente em relação aos gastos totais com alimentação, mais do que o triplo dos da região Norte, por exemplo.
O preconceito quanto à carne suína não ser saudável talvez fique claro quando se observa que as famílias pertencentes aos estratos de renda mais altos (na pesquisa 2008/09, as com renda mensal superior a R$ 10.375) gastam, com a carne suína, proporcionalmente aos seus gastos totais com alimentação, menos do que gastam as famílias com renda mensal inferior a R$ 830.
Um consumo interno mais robusto seria altamente positivo, pois permitiria à carne suína ganhar maior competitividade nas exportações, já que uma base de consumo interno maior gera estabilidade para a cadeia produtiva e ganhos de escala.
A atividade seguramente aumentaria de porte, gerando ganhos de renda para um grande contingente de médios e pequenos produtores rurais, com reflexos positivos sobre toda a cadeia de fornecedores de insumos para a atividade da suinocultura.


JOSÉ VICENTE FERRAZ é engenheiro agrônomo e diretor técnico da AgraFNP.


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