São Paulo, terça-feira, 30 de novembro de 2010

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ANÁLISE

Pacote de liquidez na Irlanda não muda a regra do jogo, apenas ganha tempo


PLANO POUCO FAZ PARA ENFRENTAR O EXCESSO DE DÍVIDA DO PAÍS; OBJETIVO É ESTABILIZAR O MERCADO

MOHAMMED EL-ERIAN
ESPECIAL PARA O "FINANCIAL TIMES"

A Europa tentou encontrar um delicado equilíbrio no fim de semana. Concedeu empréstimos de emergência para sustentar a liquidez, abordagem que visivelmente perdeu força no que tange a conter os deslocamentos na periferia do continente.
Mas avançou em direção a uma abordagem mais duradoura para enfrentar os problemas de solvência, embora a abordagem envolva maior risco de danos colaterais.
O novo pacote de liquidez pouco faz para enfrentar o excesso de dívidas da Irlanda ou reduzir o custo de serviço dessas dívidas. Seu objetivo é introduzir estabilidade no mercado, o que por sua vez permitiria que o governo irlandês implementasse seu pacote de austeridade recentemente anunciado.

COMPRANDO TEMPO
O pacote, portanto, não muda o jogo. Reduz o risco de contágio em outros países periféricos, até que uma estrutura regional de solução de crises seja implementada.
Mas não melhora de maneira significativa as perspectivas de emprego e de crescimento em médio prazo na Irlanda.
Os vizinhos europeus da Irlanda sabem que estão comprando tempo para formular um mecanismo de redução das dívidas soberanas, que entrará em operação em 2013.
Um mecanismo como esse expandiria a gama de alternativas para lidar com futuras crises de dívida. Mas diversas condições precisam ser cumpridas para que o modesto pacote deste final de semana possa funcionar.
A Irlanda precisa se provar capaz de implementar seu novo e ambicioso programa de ajuste -e fazê-lo de forma que transfira considerável responsabilidade aos contribuintes do país, enquanto os credores não terão de arcar com quaisquer perdas.
Os credores e depositantes irlandeses precisam sinalizar sua satisfação com o pacote e confiança na promessa de que o cronograma europeu para impor prejuízos aos credores não será acelerado.
Por fim, a mesma abordagem (repetidamente contestada) de apoio à liquidez por parte da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional terá de deter o contágio no continente. A Europa demorou a reconhecer a severidade da crise de dívida nos países periféricos. Agora reconhece que o apoio à liquidez pode não bastar.
O continente inicia uma transição gradual para uma mistura em médio prazo de soluções de solvência e liquidez. Um tropeço quanto ao novo pacote trará uma transição menos ordeira do que as autoridades prefeririam.


MOHAMED EL-ERIAN é presidente-executivo e vice-presidente de investimento da Pimco.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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