São Paulo, quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

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ANÁLISE

IGP ratifica impossibilidade de crescer sem investimentos

CICLOS DE PUJANÇA CONSUMISTA SÃO INTERROMPIDOS PELA ESCASSEZ DE OFERTA DAS INDÚSTRIAS

DANIEL AUGUSTO MOTTA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Criado em 1944 pela Fundação Getulio Vargas, o IGP (Índice Geral de Preços) possui três variações conforme período de coleta de dados: IGP-10, IGP-M e IGP-DI.
Todos apresentam a mesma composição: 60% de IPA (Índice de Preços ao Produtor Amplo), 30% de IPC (Índice de Preços ao Consumidor) e 10% de INCC (Índice Nacional de Custo da Construção).
Trata-se de um dos indicadores macroeconômicos mais relevantes da economia brasileira, não obstante seu "concorrente", o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), calculado pelo IBGE, ser o principal índice de inflação direcionador da política monetária do BC.
O IGP, por sua vez, é amplamente utilizado como indexador de contratos, de financiamento imobiliário a aluguel. Em 2010, enquanto o IPCA acumula 5,3% até novembro, o IGP-M atingiu 10,6% no mesmo período. Por quê?
O IGP, diferentemente do foco varejista do IPCA, é muito influenciado pelos preços praticados em transações empresariais. Afinal, 60% do índice se refere ao IPA. Este, por sua vez, é decorrente da variação de preços nos setores de agricultura (24,7%), extração mineral (3,3%) e, principalmente, indústria de transformação (72,0%).
Historicamente, o IGP apresentou forte correlação com a variação cambial. A ideia era que uma depreciação da moeda local resultaria em aumento dos custos das indústrias e, assim, dos preços no atacado.
Entretanto, em 2010, mesmo com a apreciação da nossa moeda, o IGP elevou-se fortemente: de uma deflação anual em 2009 (-1,7%) para uma inflação de 11,32% neste ano -a maior desde 2004.
Os vilões dessa escalada inflacionária são as indústrias de transformação (siderurgia, petroquímica, alimentos, cimentos, metalúrgica, automotiva, bebidas e vestuário, entre outras).
Diante do aumento do consumo turbinado pela abundância de crédito e pela euforia de expectativas, elas têm uma capacidade instalada de oferta insuficiente e, assim, praticado reajustes sucessivos no atacado.
A elevação do IGP ratifica a impossibilidade de crescimento econômico sem foco em investimentos produtivos. Na sua ausência, ciclos de pujança consumista são inevitavelmente interrompidos pela dura realidade de escassez de capacidade de oferta das indústrias.

DANIEL AUGUSTO MOTTA, doutor em economia pela USP, é sócio da consultoria BMI e professor do MBA Executivo Insper.


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