São Paulo, quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

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Alta da carne provoca troca de acusações

Atacado e varejo responsabilizam um ao outro pelo aumento médio de 30,52% no preço do produto neste ano

Frigoríficos dizem que é excessiva a margem dos supermercados, que rebatem apontando a concentração no setor

ELVIRA LOBATO
PEDRO SOARES
DO RIO

Em meio à maior alta de preço da carne desde o Plano Real, frigoríficos e supermercados acusam um ao outro de agravar o problema.
O preço ao consumidor subiu, em média, 30,52% neste ano, e não há sinal de queda em curto prazo. As previsões são que a oferta de gado para o abate continuará escassa nos próximos meses.
Do pecuarista ao açougueiro, todos os segmentos concordam que grande parte do aumento do preço foi resultado de quatro fatores.
São eles: o abate excessivo de matrizes entre 2003 e 2006, que ainda se reflete na oferta de gado de corte; a seca excepcional deste ano, que emagreceu o gado; o aumento do consumo interno; e o crescimento das exportações, em razão da diminuição do rebanho de dois tradicionais exportadores, Argentina e Austrália.
Mas, segundo análises do setor, a concentração da oferta no varejo, pelos supermercados, e as recentes fusões e aquisições de frigoríficos agravaram o problema.

MARGEM
O presidente da Abrafrigo (Associação Brasileira de Frigoríficos), Péricles Salazar, diz que a margem de aumento no supermercado sobre o preço no atacado varia de 60% no contrafilé a 114,89% no corte do lagarto. Os dados, levantados pela Scot Consultoria, referem-se aos preços médios em São Paulo.
"A mordida do leão está nas grandes redes de supermercado, que concentram 45% das vendas no país", afirma Salazar. Segundo ele, o preço no varejo não se justifica e poderia cair 30% com a redução das margens.
A Abras (Associação Brasileira de Supermercados) rebate. Diz que um dos focos do problema é a concentração do abate em poucos e grandes frigoríficos, resultado de fusões e aquisições patrocinadas pelo BNDES.
"A concentração aumenta o poder de barganha. Os frigoríficos passaram a ter mais força para sentar à mesa e negociar reajustes com o varejo", diz Tiajura Pires, superintendente da Abras.
Os açougues fazem coro aos supermercados. "O único elo com poder de controlar estoques e manipular os preços é o grande frigorífico", diz o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Carnes Frescas do Estado de São Paulo, Manuel Farias.
Os atacadistas também citam a maior concentração no abate como uma das causas da disparada dos preços. "Há menos concorrência", diz o presidente da Bolsa de Gêneros Alimentícios do Rio de Janeiro, José Souza e Silva.

CONCENTRAÇÃO
No ano passado, o JBS Friboi, responsável por 21,8% dos abates, comprou o Bertin (responsável por 17,3%). A empresa resultante da fusão (da qual o BNDES tem 27% das ações) concentra 39% do abate de gado.
O Marfrig, segundo maior frigorífico, do qual o BNDES também é acionista, responde por 14% do abate.
O BNDES rejeita a tese de concentração excessiva. Diz que o setor "ainda é muito pulverizado" e que sua atuação visou à "internacionalização" de grupos brasileiros.
Após aportes do banco -que ficou com 20,6% da JBS e 13,9% do Marfrig-, os dois frigoríficos compraram empresas no exterior.
Os pecuaristas alinham-se aos frigoríficos. "O frigorífico é um mero repassador. Está no meio, pressionado pelo produtor e pelas cadeias de supermercado", diz o presidente da Sociedade Rural Brasileira, Cesário Ramalho.


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