São Paulo, terça-feira 08 de abril de 2008

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Acessórios

Ecodesign com conteúdo

Dupla de brasileiros lança marca de acessórios em Paris

por Vanessa Barone

O nome é no mínimo intrigante para uma grife de sapatos: Imitation and Disguise (Imitação e Disfarce). Sugere algo que não é o que parece ser. Ou que não parece, mas é. Pode soar estranho, mas o nome define bem os conceitos estilísticos da marca, que tem sapatos com fôrmas clássicas "disfarçados" pelo design contemporâneo.

A grife acaba de ser lançada em Paris por dois designers brasileiros: Regina Dabdab, 30, e Jean-Philippe Gawronski, 26. A dupla se conheceu e planejou os primeiros passos da I and D no Studio Berçot, em Paris, dirigido pela professora Marie Rucki.

A primeira coleção da marca tem nove modelos de sapatos, dois de bolsas, além de outros acessórios, como porta-moedas. Os itens principais são mocassins unissex feitos a partir do sapato estilo richelieu, botas de cano curto que lembram as usadas pelas mulheres no século 19 e "trotteurs" - espécie de sapatilha com salto quadrado, também com fôrma tradicional.

Apesar da inspiração vintage, as cores e padronagens são bastante atuais. Alguns sapatos podem ou não vir acompanhados de broches removíveis, que mudam a cara do acessório, conforme são colocados ou retirados. ?"O sapato pode começar o dia mais simples e chique; mais tarde, pode ser enfeitado com um broche e ficar pronto para uma noitada", sugere Regina.

Além do conforto, a designer explica as intenções da grife: "Ela é sofisticada, moderna e ainda tem apelo ecológico". Sim, nesse caldeirão de idéias que gerou a I and D também entrou a questão da poluição ambiental. "Para o europeu, isso é muito importante", afirma Regina, que além de trabalhar na marca própria desenha peças para a grife francesa ecomoderninha Veja, que tem tênis com matéria-prima reciclada (e brasileira).

E, para se adequar à onda verde que pouco a pouco cresce na moda, Regina e Jean-Philippe resolveram trabalhar com um couro de carneiro que passa por uma tanagem vegetal. A tanagem é uma espécie de banho que a pele recebe para virar couro e não apodrecer. As substâncias usadas na tanagem podem ser de origem mineral (cromo) ou vegetal (taninos). "A tanagem feita com cromo é muito poluente", afirma Regina, que optou por usar um couro curtido e tingido com substâncias naturais.

O couro utilizado nos sapatos da I and D é produzido na França. A linha de produção da grife fica em Romans-sur-Isère, que concentra várias fábricas de calçados. "Unimos duas coisas que os franceses adoram: apelo ecológico e produção 100% nacional", diz Regina. A primeira coleção saiu do forno há alguns meses e já foi apresentada em três salões especializados, na França. "Estamos em negociações para vender na butique Le 66", diz Regina. A loja-conceito, aberta recentemente na avenida Champs-Élysées, número 66, é uma multimarcas focada em novas grifes.

A primeira coleção da I and D é inspirada no artista plástico brasileiro Hélio Oiticica, cujo trabalho está presente nos desenhos geométricos e nos relevos espaciais dos broches, usados como adornos. "Queremos sempre usar artistas brasileiros como fonte de inspiração", diz Regina. Faz sentido. Ela é filha de brasileiros, formada pela Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo, e ex-estilista de acessórios das marcas Arezzo, Forum e Cori. Jean-Philippe é filho de mãe brasileira e pai francês, e ex-assistente de Carlos Miele.

A vinda da grife para o Brasil ainda é incerta. "A questão do preço atrapalha, e o brasileiro ainda não dá muita bola para produtos ecológicos", diz Regina. Os sapatos da I and D custam, em média, 300 euros (cerca de R$ 800).


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