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Espanhóis escolhem novo governo hoje

Segundo pesquisas, crise europeia vai derrubar candidatos do partido do primeiro-ministro, o socialista Zapatero

Novo premiê deve ser do Partido Popular, de direita; desempregados jovens mostram apatia e não pretendem votar

VAGUINALDO MARINHEIRO
ENVIADO ESPECIAL A MADRI
Pierre-Philippe Marcou/France Presse
Mariano Rajoy, líder do Partido Popular da Espanha, acena para partidários no último encontro de campanha antes das eleições marcadas para hoje
Mariano Rajoy, líder do Partido Popular da Espanha, acena para partidários no último encontro de campanha antes das eleições marcadas para hoje

Nas escadarias da praça de Espanha, no centro de Madri, jovens tomam vinho tinto que sai de um galão plástico de cinco litros. Alfredo, 19, Javier, 21, José Luis, 22, e Ignacio, 22, nunca trabalharam e têm de se contentar com um divertimento muito barato na fria noite de quinta (6°C).

Longe de serem raridade, representam quase metade dos jovens de um país onde o desemprego entre as pessoas de 15 a 24 anos chega a 48%. Maior taxa na Europa.

Eles poderiam votar nas eleições de hoje, que irão definir os deputados e os senadores e, em consequência, o novo primeiro-ministro espanhol. Mas não vão.

"Para quê? Mudam os governos e continuam os mesmos bancos", afirma Ignacio.

O governo deve mesmo mudar. As pesquisas apontam que o PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) será a nova vítima da onda que varre os partidos de centro-esquerda da periferia da Europa, vítimas da crise da dívida, do baixo crescimento e da política de austeridade.

Em Portugal, o Partido Socialista deu lugar ao Social-Democrata, de centro-direta. Na Grécia, George Papandreou (também do Partido Socialista) teve de renunciar.

O primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, e seu PSOE devem amargar derrota histórica.

O partido deve cair dos atuais 169 deputados para cerca de 110, segundo as pesquisas.

Já o PP (Partido Popular), de direita, deve ser o vencedor e abocanhar entre 192 e 196 das 350 cadeiras. Analistas são unânimes em afirmar que a razão é a economia.

O advogado Mariano Rajoy, 56, líder do PP e que deve ser o novo primeiro-ministro, não promete mudanças radicais nessa área.

Na verdade, jura que manterá o que foi acordado por Zapatero com a União Europeia, o que significa mais cortes de gastos para reduzir o deficit público -equivalente, em 2010, a 9,24% do PIB.

O país se comprometeu a reduzi-lo para 6% neste ano, apesar de os tratados da União Europeia determinarem um máximo de 3%.

Não é apenas o governo que tenta reduzir seus gastos. Os espanhóis também.

Na Gran Vía, tradicional rua de comércio de Madri, o vaivém frenético dos pedestres contrasta com as lojas quase às moscas, apesar de liquidações. Por toda a cidade, é fácil achar restaurantes com muitas mesas vazias.

"Baixei o preço para ver se mantinha os clientes. Muita gente não consegue pagar as dívidas contraídas na época do crédito barato. Comer fora, uma tradição, virou luxo", diz Luis Castanedo, dono de um restaurante perto da praça Alonso Martinez.

Os jovens da praça de Espanha sabem bem disso.

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