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Opinião

Os militares deixaram claro que o velho regime continuará

AMOR ELETREBI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Hosni Mubarak renunciou em fevereiro, e pensamos que a revolução fosse um assunto encerrado. Desde então, os egípcios tentam se aproximar uns dos outros e conversar.

Pichações se multiplicaram em toda parte. Pessoas na casa dos 40 anos começaram a querer conhecer o cenário do hip-hop. Artistas jovens sentiram o desejo da geração mais velha de se conectar. E todo homem jovem do país se politizou. As pichações apareceram na forma básica de mensagens políticas diretas escritas em estênceis de uma só cor, com referências a filmes clássicos.

Os rappers começaram a fazer músicas mais lentas. E as duas pontas do círculo começaram a se encaixar.

Por outro lado, mais de 12 mil pessoas foram encarceradas em prisões, e centenas foram torturadas. Os militares aos quais Mubarak entregou o poder mostraram não ser tão revolucionários assim.

"Abaixo os militares", gritaram manifestantes na Tahrir uma semana atrás. E foi quando os egípcios começaram a se revoltar outra vez. Os militares completaram um encaixe perfeito no quadro Mubarak-opressão.

No momento em que estas linhas são escritas, são seis dias de batalhas sem parar em Tahrir entre manifestantes e a tropa de choque.

Dezenas foram mortos, mais de mil ficaram feridos, gás lacrimogêneo foi atirado em grande volume contra os manifestantes. "Assistir a esses jovens heroicos combaterem a polícia ininterruptamente em Tahrir me faz sentir covarde", comentou um amigo de cabelos grisalhos.

Os manifestantes-combatentes variaram entre rapazes e moças, velhos e velhas, jovens das favelas e torcedores de futebol. Mais uma vez, o Egito ficou inteiro.

Hoje em dia, antes de ir à praça Tahrir, alguns de nós pintamos o número de telefone de nossos pais nos braços, para o caso de sermos baleados. Os militares deixaram claro que o mesmo velho regime seguirá para sempre.

A revolução se fez completa. Virou uma existência em si mesma. Nós compreendemos que afastar Mubarak foi apenas a parte fácil. O regime opressor vem eliminando a elite intelectual há décadas.

Portanto, ele não tinha nada a oferecer quando buscamos uma resposta com ele, logo após a revolução de 25 de janeiro. Tivemos que aprender do jeito difícil o que odiar. Agora, o conhecimento do que não queremos é o único que possuímos. A liberdade é a resposta. E Tahrir será para sempre.

AMOR ELETREBI, 23, poeta e ativista egípcio, é colaborador da rede Al Jazeera

Tradução de CLARA ALLAIN

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