Análise

Militares estão dando o tom na escalada contra o Ocidente

É grave o novo passo da escalada que opõe o Paquistão ao Ocidente. A reação tímida dos Estados Unidos à morte dos soldados paquistaneses pela Otan é lida no país asiático como um desleixo inaceitável e que pode trazer consequências imprevisíveis.

Por conveniência política e econômica, o governo Obama deu por encerrada a guerra que sucedeu aos ataques terroristas de 2001.

O marco desse processo ainda inconcluso foi a incursão no território paquistanês que resultou no anúncio da morte de Osama bin Laden, o mentor do 11/9, em maio.

Desde então, virou lugar-comum dizer que as relações entre Washington e Islamabad estavam deterioradas. A retórica hostil recrudesceu e a troca de informações caiu a níveis baixíssimos.

Mas os comboios com combustível e mantimentos para o esforço de guerra da Otan no Afeganistão seguiram serpenteando as áreas tribais entre o porto de Karachi e Cabul, salvo interrupções pontuais. Até agora.

A estratégia americana para toda a região parece baseada na certeza de que Islamabad vai chiar, mas no fim sempre irá aceitar suas condições. Só que a situação política já não é mais assim.

Desde maio, o Paquistão estreitou e ampliou os laços com a China -que coloca a importante posição geográfica do vizinho como porta para o oceano Índico acima de quaisquer considerações sobre o regime em vigor.

Se não deu nenhum golpe como no passado, o Exército paquistanês superou as críticas à sua atuação no caso Bin Laden e já voltou a mandar e desmandar à vontade.

Derrubou sem dificuldade o falante embaixador do país nos EUA e agora fala em nome do governo na crise que ganha corpo.

A reafirmação militar ficará clara caso seja levada até o fim a ordem para que os americanos deixem a base no deserto paquistanês na qual usam seus aviões-robô.

É alarmismo falar em um cenário de confronto aberto, mas é inegável que o preço das apostas subiu, e muito.