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Egípcios ignoram boicote e vão às urnas

Principal tarefa do Parlamento será redigir a nova Constituição para o país enfrentar a era pós-Hosni Mubarak

Clima entre eleitores era de celebração, mas disposição de militares de deixar o poder de fato ainda gera dúvidas

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL AO CAIRO

Quem temia violência, pouca participação e irregularidades generalizadas na primeira eleição no Egito desde a queda do ditador Hosni Mubarak, surpreendeu-se ontem com um início de votação pacífico e o alto comparecimento às urnas.

As longas filas eram o indício de que a maioria decidiu ignorar a campanha pelo boicote e o clima de tensão da última semana.

Mesmo entre os manifestantes acampados na praça Tahrir, no centro do Cairo, em protesto contra a permanência dos militares no poder, houve muitos que não resistiram e aproveitaram a chance de participar da primeira eleição pós-Mubarak.

A calma que predominou ontem era um cenário difícil de se prever até poucos dias atrás, quando a Tahrir voltou a se transformar em uma praça de guerra. Confrontos com forças de segurança deixaram 42 manifestantes mortos.

Nas ruas do centro, bem perto da praça que ficou mundialmente famosa como o epicentro dos protestos que derrubaram Mubarak, em fevereiro, famílias inteiras exibiam, orgulhosas, o dedo sujo de tinta, que identificava quem já havia votado.

Depois de décadas sob um regime de partido único, o eleitor teve a oportunidade de escolher entre 6.000 candidatos de um total de mais de 50 legendas.

Muitos votavam pela primeira vez, incluindo quem já tinha ultrapassado há tempos a idade eleitoral mínima.

"Na época de Mubarak não havia motivo pra votar. O resultado era sempre o mesmo", disse o contador Magdi Shaaban, 46, que esperou pacientemente por mais de duas horas para depositar seu primeiro voto.

PROPAGANDA

Em desrespeito às regras, panfletos de candidatos eram distribuídos aos eleitores na boca da urna, sem qualquer reação dos soldados que faziam a segurança da votação.

Em geral, o clima nas sessões eleitorais foi de celebração, mas havia incertezas.

A transição democrática ainda é uma incógnita, sobretudo pela falta de um cronograma claro para a saída dos generais do poder.

Há ainda o temor entre muitos egípcios de que a Irmandade Muçulmana, mais organizada que qualquer outro grupo político, ganhe força por meio do voto para implantar um Estado religioso.

"Não é democracia? Se o povo quiser os islamitas no poder, é preciso respeitar", disse, após votar, o engenheiro Mostafa Swidy, 52.

A votação de ontem é o início de um longo e complexo processo eleitoral, que vai até março, quando serão conhecidos os resultados finais.

A eleição definirá as duas casas do Parlamento, que terá como principal missão redigir a nova Constituição.

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