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Crise nostra

Aposentados europeus no Brasil acompanham de longe cortes nas pensões

Diego Padgurschi/Folhapress
O aposentado italiano Sergio Pugno, 82
O aposentado italiano Sergio Pugno, 82

DIOGO BERCITO
DE SÃO PAULO

"Me aposentei porque trabalhei", diz uma senhora italiana. Em seguida, desliga o telefone. Ela não quer ser entrevistada pela Folha.

Entre o trabalhar e o aposentar-se, porém, há uma crise financeira. Nela, as palavras "pensão" e "cortes" têm sido publicadas lado a lado.

As aposentadorias, assim como outros gastos de bem-estar social, são alvo dos pacotes de austeridade que buscam reduzir deficits e dívidas soberanas na Europa.

A Itália, por exemplo, deve o equivalente a 121% de seu PIB. Neste mês, Mario Monti, o novo premiê italiano, anunciou que irá reestruturar o pensionato do país.

O assunto não interessa apenas a quem mora na Itália. No Brasil, as comunidades de expatriados acompanham com atenção as notícias a respeito dos cortes.

O Patronato Acli (sigla para "associação cristã de trabalhadores italianos") estima que haja 11 mil aposentados italianos vivendo no Brasil.

Entre eles, Sergio Pugno, 82, que recebe aproximadamente R$ 500 mensais por "vecchiaia", a velhice.

FIM DA MOLEZA

Formado em eletrônica, Pugno veio ao Brasil em 1950. Ele especializou-se na também recém-chegada televisão. Nesse ramo, foi secretário-executivo da diretoria comercial de uma firma.

Ele acompanha com atenção as notícias pela imprensa italiana, mas garante não temer cortes na sua aposentadoria. "O governo do [ex-premiê Silvio] Berlusconi foi um desastre", diz. "Se revisarem minha pensão, deve ser para cima", afirma Pugno.

Os "patronatos" (espécies de associações de aposentados) procurados pela Folha apostam que as reformas prometidas não serão retroativas. Assim, torcem para que elas só afetem quem ainda não recebe esse benefício.

Na Itália, discute-se a criação de um sistema que flexibilize a idade de aposentadoria, que passaria a ser possível entre os 63 e os 70 anos de idade. Quanto mais tarde a pessoa se tornar pensionista, maior o benefício que receberá, de acordo com o projeto.

Hoje, as idades de aposentadoria são de 60 anos (mulheres) e 65 anos (homens).

O Brasil mantém acordos previdenciários com uma série de países, possibilitando que contribuições feitas em solo estrangeiro sejam contabilizadas aqui. As regras variam de acordo com a nação.

"Com a intensificação dos fluxos de trabalhadores entre países, os acordos internacionais de Previdência se tornam imprescindíveis", diz Rogério Nagamine, diretor de regime geral de Previdência Social do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).

Fazem parte do acordo, além da Itália, países como Portugal, Grécia e Espanha.

O grego Evangelos Paraskepoulos, 75, é um dos beneficiados. Ele aposentou-se pelo governo da Grécia em 1986, devido ao trabalho na Marinha mercante do país. No Brasil desde os anos 70, atraído por um emprego em uma multinacional, ele recebe € 1.300 mensais (aproximadamente R$ 3.200).

Paraskepoulos diz que aceitaria redução de sua pensão. "Acho que é necessário [fazer a reforma previdenciária]. Não há outra solução."

O empresário português Fernando Ferreira Dinis, 69, está em vias de aposentar-se por seu país natal. Mas "não estou necessitado", afirma.

Dinis admite, porém, o potencial de desagrado trazido pela questão. "As pessoas que estão doidas para se aposentar vão se chatear. Vai aumentar o número de anos [necessários]. Eles estão acabando com a moleza", diz.

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