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Crédito ao setor privado encolhe na periferia da Europa

Na Espanha, empréstimos dos bancos para famílias e empresas têm a maior retração desde ao menos 1963

Crise deve ter piorado em novembro, quando a alta dos papéis dos governos tornou acesso ao mercado mais difícil

ÁLVARO FAGUNDES
DE SÃO PAULO

Antes da ação dos BCs globais na semana passada, o crédito já estava encolhendo em vários países europeus e alguns indicadores do sistema financeiro mostravam números preocupantes, só vistos logo após a quebra do Lehman Brothers, em 2008.

Apesar de o crédito para o setor privado da zona do euro ainda estar crescendo em outubro, isso se deve a economias que estão relativamente mais fortes, especialmente do norte europeu.

Na periferia europeia, em países como Irlanda, Portugal e Eslovênia, o acesso das empresas e dos consumidores a financiamento está cada vez mais difícil, com meses consecutivos de recuo.

Na Espanha, o crédito sofreu em outubro a maior queda desde que o banco central do país iniciou os registros, em 1963. E os depósitos vêm recuando há cinco meses, mostrando os temores dos consumidores com o setor.

Mesmo nos países em que o crédito ainda cresce, o ritmo é mais fraco. Na França, onde se expandia em um ritmo superior a 10% em 2008, hoje avança em torno de 2%.

Um outro sinal do aperto no crédito é que um indicador amplo usado por bancos centrais para medir o dinheiro em circulação mais os depósitos (à vista e a prazo), chamado de M3, caiu 0,6% em outubro, o maior recuo desde janeiro de 2009.

Essa queda é considerada por muitos analistas o primeiro sinal de que está ocorrendo um aperto no crédito.

E isso que os dados do Banco Central Europeu (BCE), divulgados na semana passada, se referem a outubro, quando a nova disparada dos títulos soberanos europeus estava apenas no início.

INSUFICIENTE

A crise nos mercados tornou mais difícil para os bancos levantar dinheiro, ao mesmo tempo em que as instituições financeiras ficam cada vez mais temerosas de emprestar umas para as outras, com medo de que o concorrente não honre a dívida.

É o cenário em que os bancos não emprestam nem entre si nem para os consumidores que os BCs dos países ricos tentaram evitar quando anunciaram na semana passada o barateamento das linhas de crédito em dólar.

Logo antes da ação, as taxas que os bancos estavam cobrando para transformar euro em dólar se aproximaram dos níveis de setembro de 2008, quando o Lehman Brothers quebrou.

O problema é que, para muitos analistas, a medida dos BCs de EUA, Reino Unido, Japão, Suíça, Canadá e zona do euro é insuficiente.

"Ela é uma medida bem-vinda que, ainda assim, não trata das ameaças mais profundas para o cenário econômico europeu", disse, em análise, Edwin Truman, ex-membro do BC dos EUA.

Para ele, o começo da solução passa pelo corte dos juros (hoje em 1,25%) pelo BCE.

"Por que o resto do mundo deve ajudar a zona do euro se os europeus e o BCE não estão dispostos a fazer muito mais para se ajudar?"

Parte da resposta deve sair nesta semana, quando as lideranças do bloco se reúnem para discutir a crise.

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