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Que fim levou a URSS

Polos russo e europeu dividem a Ucrânia hoje

Após três décadas anexado à Rússia, país ainda procura sua identidade

População se divide quanto à proximidade em relação a Moscou, de quem depende para abastecimento de gás

FABIANO MAISONNAVE
Enviado especial a Kiev (UCRÂNIA)

Diante da histórica igreja de São Miguel, no centro de Kiev, centenas de velas coloridas se aglomeram em volta do monumento às vítimas da grande fome que matou alguns milhões de ucranianos entre 1931 e 1932, época stalinista da União Soviética.

A tragédia, chamada de Holomodor (morte por fome, em ucraniano), se tornou um dos vários campos de batalha na busca ucraniana por uma identidade nacional -tarefa difícil após três séculos anexada à Rússia.

Levado ao poder durante a Revolução Laranja de 2004, o ex-presidente pró-Ocidente Viktor Yushchenko (2005-2010) acusou repetidas vezes a União Soviética de ter praticado genocídio para minar o nacionalismo ucraniano.

A política de reconhecimento do Holomodor como genocídio foi revertida pelo seu sucessor, Viktor Yanukovych. Eleito numa votação apertada graças ao apoio no sul e no leste, as regiões mais russificadas da Ucrânia, afirmou que a fome provocada pela política stalinista matou em várias regiões da URSS, e não apenas no seu país.

"A distância tem um papel positivo para uma ex-colônia, como o Brasil. Mas temos 2.500 km de fronteira com a Rússia, há famílias mistas nos dois lados. Passados 20 anos, o império não reconhece as novas fronteiras. Para diminuir essa influência, é preciso várias gerações", afirma Vladimir Schokoschtynyi, vice-presidente da Associação dos Escritores da Ucrânia.

A independência da Ucrânia foi ratificada por um referendo em 1991, quando 90% dos eleitores aprovaram a separação de Moscou. Mas esse apoio maciço logo se dividiu em impasses como a entrada na Otan (aliança militar ocidental) e no quão próximo o país deve ser da Rússia, de quem depende para o abastecimento de gás, além dos laços históricos e culturais.

"Os nossos valores são mais próximos da Europa democrática do que da Rússia cada vez mais autoritária", afirma Arseniy Yatsenyuk, 37, ex-chanceler e presidente do partido oposicionista Frente para a Mudança.

Já o deputado Volodymyr Oliynyk, do governista Partido das Regiões, nega que a atual política seja pró-Moscou. "A visita do presidente Yushchenko ao Brasil [em outubro] não foi casual. Estamos tradicionalmente orientados para a Europa ou para a Rússia, agora é preciso ver o que está além."

Autor de mais 40 documentários e de uma série sobre presos políticos na era soviética -dedicada ao seu avô, morto no Holomodor-, o cineasta Myhaylo Tkachuk, 70, chama de genocídio o período, mas defende que a era sob dominação também produziu instituições que ajudaram a cultura ucraniana.

"Não precisamos copiar cegamente o Ocidente nem continuar ligados à Rússia. Temos de buscar as nossas tradições e construir a nossa Ucrânia."

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