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Gafes marcam debates dos republicanos

Política externa dos pré-candidatos remete ao governo George W. Bush, com posições radicais em relação ao Irã

América Latina é ignorada, com exceção da obsessão com suposta presença do Hizbollah na região

PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO

Os pré-candidatos republicanos à Presidência dos Estados Unidos vêm honrando a tradição do ex-presidente George W. Bush nas gafes de política externa -tal como Bush filho e seus famosos 'bushismos', eles demonstram nessa fase de pré-campanha pouco conhecimento sobre assuntos internacionais.

Mas não é só nisso que os republicanos estão evocando Bush.

A volta do neoconservadorismo, com posições ultrarradicais principalmente em relação ao Irã e à tortura, é a regra entre os candidatos. Com exceção do ex-embaixador na China Jon Huntsmann e do libertário Ron Paul, considerados mais isolacionistas por pregarem uma aceleração na retirada das tropas americanas do Afeganistão, todos os outros seguem à risca a cartilha "neocon".

A congressista Michele Bachmann defende uma volta aos métodos de tortura da era Bush, incluindo as simulações de afogamento. "Eu usaria a simulação de afogamento, é muito eficiente."

Todos os candidatos defendem apoio a Israel em caso de um ataque militar ao Irã.

"Se reelegermos Barack Obama, o Irã vai ter uma arma nuclear", profetizou Mitt Romney. "Se elegermos Romney, o Irã não terá uma bomba", prometeu. Ele defendeu um ataque militar contra o país persa.

O novo líder nas pesquisas, Newt Gingrich, ex-presidente da Câmara, advoga "assassinar cientistas nucleares" no Irã. E disse ontem que "o povo palestino é inventado" e que as políticas de Obama para o Oriente Médio "favorecem os terroristas".

"Nós ainda não ouvimos ninguém cantar bomb bomb bomb Irã, como o senador John McCain em 2008, mas os candidatos têm visões bastante radicais", disse à Folha Steven Taylor, professor da Troy University e blogueiro do Inside the Beltway.

Os republicanos estão obcecados com a suposta expansão do Hizbollah na América Latina. Em seu programa de governo, Romney menciona duas vezes o Hizbollah e três vezes terrorismo na região. Já o Brasil não recebe nenhuma menção.

No debate da CNN, o candidato Rick Santorum afirmou estar "muito preocupado com socialistas militantes e islâmicos radicais se juntando" na América do Sul. Romney emendou: "O Hizbollah está atuando em toda a América Latina e representa uma ameaça iminente aos EUA." Segundo o último relatório do Departamento de Estado sobre terrorismo, não existem células do Hizbollah operando na região.

Fora Hezbollah e México, a região está ausente do debate. "Esta eleição gira em torno de empregos. Mas justamente por isso deveria haver mais debate, laços comerciais mais estreitos entre Brasil e EUA ajudariam a economia americana", disse à Folha Carl Meacham, assessor do senador republicano Richard Lugar.

De fato, nesta campanha, a política externa está longe de ser o tema central. Apenas 3% dos americanos apontavam "guerras" como a principal preocupação em novembro de 2011, segundo o Gallup. Em outubro de 2007, um terço dos eleitores afirmava que a guerra do Iraque era a preocupação. Já o desemprego é a preocupação para 36% dos entrevistados, diante de 5% em outubro de 2007.

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