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Clóvis Rossi

Nem fim do mundo nem mundo novo

Só os mercados e o BCE dirão se o acordo de austeridade aprovado pela cúpula europeia foi ou não o oxigênio necessário para evitar o agravamento da crise da dívida no continente

A chanceler alemã Angela Merkel saiu da chamada cúpula do fim do mundo - que, afinal, decidiu ao menos adiar o fim do mundo ou da Europa - com uma avaliação realista: "Levará anos para sair da crise".

A pergunta seguinte inevitável é se os mercados darão o tempo que Merkel acredita ser necessário para sair de fato da crise.

Não dá para esquecer que foi a pressão dos mercados, jogando para níveis obscenos os juros pedidos para rolar a dívida de alguns países europeus, que forçou a Europa a atuar. Quem diz é o conservador e pró-mercado Nicolas Sarkozy, o presidente francês. Ao explicar porque não foi possível aceitar as demandas do Reino Unido para proteger a City londrina, Sarkozy afirmou: "Consideramos que parte dos problemas vem da desregulação dos serviços financeiros".

Na verdade, é muito mais que isso, como escreve, para "El País", Fernando Vallespín, catedrático de Ciência Política da Universidade Autônoma de Madri: para ele, a Europa entrou em estado de exceção, personificado "por obscuras forças econômicas sem rosto ou localização física conhecida, (...) que não prestam contas a ninguém e se espalham pelo globo por meio de milhões de transações diárias no ciberespaço".

É assustador, mas é assim que as coisas funcionam hoje e, por isso, a Europa foi colocada de joelhos. Reagiu com um acordo "pesadamente inclinado para a disciplina orçamentária", como o definiu a "The Economist".

Completa: "Faz pouco para gerar dinheiro no curto prazo para brecar a corrida contra a dívida nem oferece a perspectiva de longo prazo da emissão conjunta de títulos" pela eurozona, de forma a diluir o risco de comprar papeis de países que os mercados julgam inconfiáveis.

Apontados os problemas, voltemos aos mercados, até porque, como escreve também para "El País" José Ignacio Torreblanca (Conselho Europeu de Relações Internacionais), "na Europa mandam Merkel e Sarkozy, mas as decisões são tomadas por [Mario] Draghi e pelos mercados", em referência ao novo presidente do Banco Central Europeu.

Explico: estava implícito que, uma vez sacramentada a austeridade, o BCE passaria a comprar em massa papeis da dívida, com o que, em tese, os mercados deixariam de especular contra a dívida de Itália e Espanha.

O "em tese" é relevante: até o fechamento da sexta-feira, estes papeis permaneciam cotados a valores que impedem que seus governos se financiem no mercado, o que significa que continuarão dependendo do BCE. Foi adiada ainda para 2012 a definição de uma parede de dinheiro que proteja os países na mira dos mercados - tão solicitado pelos EUA (e pelo Brasil). Não foi, pois, a cúpula do fim do mundo, mas tampouco foi a de um novo mundo menos instável.

crossi@uol.com.br

AMANHÃ EM MUNDO
RUBENS RICUPERO

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