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Análise

A chanceler Angela Merkel joga uma partida de xadrez em três tabuleiros

SEBASTIAN HARNISCH
ESPECIAL PARA A FOLHA

A chanceler Angela Merkel não vem sendo alvo de muito afeto hoje em dia. O problema da chanceler é que ela joga uma partida de xadrez em três níveis, com cada lance em um dos níveis influenciando os outros dois.

No primeiro tabuleiro, Merkel enfrenta governos fracos e economias ainda mais fracas nos Estados das extremidades sul e norte da UE.

Orientada às exportações, a Alemanha emprestou dinheiro aos bancos das economias mais fracas, possibilitando às respectivas sociedades consumir demais enquanto ganhavam de menos.

Para reconstruir a confiança na zona do euro, a chanceler Merkel e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, na cúpula recente da UE, insistiram em delegar autoridade nacional substancial à Comissão da UE e à Corte Europeia de Justiça, com isso automaticamente sancionando os pecadores do Orçamento: confiem, mas verifiquem coletivamente.

No segundo tabuleiro, Merkel enfrenta um público alemão cético que já suportou várias rodadas salariais de baixo crescimento, enquanto outras economias da UE elevaram seus salários substancialmente nos últimos dez anos. Mas o problema verdadeiro é que a chanceler se defronta com uma Corte Constitucional Federal hábil e disposta que rejeita firmemente o que descreve como uma união de transferência em que um Estado, a Alemanha, cobre as dívidas pendentes dos outros.

Para agravar a situação, a chanceler nem sequer pode ter certeza de que sua coalizão lhe dará respaldo se ela oferecer garantias demais a países da zona do euro que estão com problemas, porque dissidentes em sua coalizão governista insistem em que novas garantias irão apenas dar lugar a mais irresponsabilidade fiscal no sul da Europa: nunca confiar e verificar o tempo inteiro.

No terceiro tabuleiro, Merkel e outros líderes europeus jogam contra mercados financeiros que se beneficiam de volatilidades. A situação é que alguns atores no mercado tentam pressionar governos eleitos a resgatar banqueiros e gerentes de fundos que agiram irresponsavelmente quando concederam empréstimos sem garantias.

Na partida tridimensional de Merkel, confiança é artigo escasso: promessas feitas em reuniões de cúpula talvez não sejam ratificadas em casa, ou governos que prometeram demais deixem o poder.

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